segunda-feira

Futebol

Dia seguinte de jogo decisivo. Torcedores acordam leves, com sorriso besta no rosto, dispostos a exibir sua felicidade pelas ruas. Quem não tem a camisa vencedora para exibir, apenas sorri, dá bom dia, ajuda velhinha a atravessar a rua, passa a mão na cabeça do cachorro do vizinho, diminui o passo para que o gato não se assuste e atravesse a rua imprudentemente. Ainda lembra uma frase do locutor, escuta o eco do último gol e sente novamente os pelos do braço se arrepiarem. Como é bom estar vivo, pensa. Passa a prestar atenção às coisas mais simples ao seu redor: ao capim que cresce num canteiro descuidade, no voo rasante de um passarinho em busca de comida, no moleque com o jornal em baixo do braço para levar para o pai. Para um momento na banca e observa os jornais, compara as manchetes, ri com os títulos mais provocativos. Cruza com um correligionário com a camisa do time e toma a decisão: vou comprar uma esta semana. Justo ele que sempre foi tímido e sempre se vestiu de forma sóbria para permanecer invisível na multidão. Agora está disposto a chamar a atenção, a se exibir. Principalmente para as crianças, que precisam ser influenciadas pelos mais sábios. E ele se autoescala entre os sábios, os conselheiros, os veteranos, aqueles que têm tantas histórias para contar, que pode servir de exemplo à nova geração. Lembra dos ídolos do passado, mesmos os do time adversário. Ele não é injusto com os grandes deuses da bola e sabe reconhecer aqueles que se destacaram nesse monte Olímpo coberto por grama esmeralda. Um dia, lembra, cruzou num restaurante com Ademir da Guia. Mesmo que ele não fizesse parte do passado glorioso de seu time, ficou emocionado e quase cumprimentou o veterano, apelidado de Divino. Mais do que a rivalidade, o que o impediu foi a timidez. Nunca mais viu o Divino de perto. Quando era criança, ficava com o radinho de pilhas colado ao ouvido acompanhando cada lance. Quando via o jogo pela TV preto-e-branco, mal distinguia os jogadores borrados pela péssima sintonia proporcionada pela antena mal posicionada. Nessa época jogava no gol e chegou a ser escalado para uma partida do time do bairro, com direito a camisa emprestada, chuteira, joelheira e campo com traves e redes (furadas). Foi o primeiro e último jogo. Seu time ganhou, mas sua atuação foi desastrosa. Nunca mais pisou em um campo e, até hoje, tem uma simpatia muito grande pelos goal-keepers, os guarda-metas, guarda-valas, como são chamados pelos comentaristas. E torce para que eles mantenham a dignidade e saiam sempre vencedores. Desde que sejam do seu time, claro.

3 comentários:

  1. Ola
    Nem sem bem por onde estava navegando quendo me chama atenção o nome de seu blog e resolvi entrar.
    Parabens!
    Se algum dia puder escrever como voce ficarei feliz.
    Agora, falando de futebol que não entendo nada, gostei foi de ver o goleiro Fabio Costa, reconhecendo que tomar frango faz parte de sua profissão.
    Obrigada pelo seu texto e sensibilidade em narrar as coisas corriqueiras da vida.
    Abraços
    Miriam

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  2. Logo na estreia...erros na 1ª frase!
    Alem de ser num blog de um escritor....
    Paciência.
    Correção: "Nem sei bem por onde estava navegando quando me chama a atenção....."
    Sorry
    Miriam

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  3. Olá Miriam,

    Obrigado por sua visita e seus comentários. O gostoso da internet é que a gente acaba chegando aos sites e blogs sem saber o caminho que fez, ou seja, não dá para voltar para trás. Você fica perdido para sempre nessa imensa teia, ou será labirinto? Mas a sensação é boa, porque cada caminho leva a um lugar diferente. Novas descobertas. Novas amizades.

    Quanto ao Fábio Costa, fiquei com muita pena dele. Mas ele foi grandioso ao reconhecer o erro e se desculpar. Como diz o samba do grande Paulo Vanzolini, o homem de moral reconhece a queda, levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima. Por falar nele, vai estrear um documentário sobre esse cientista e compositor que é maravilhoso. Não perca.

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