terça-feira

quase...

Jabulani, vítima de maus tratos na África

Me rendo a minha insignificância futebolística, depois de acompanhar as peripécias de Paul, o polvo vidente. Errei quase todos meus prognósticos nessa copa chata e barulhenta. Não só: todas as seleções pelas quais torci foram eliminadas. Na final, decretei neutralidade para não prejudicar a Espanha pela qual, do fundo do meu coração e do ódio fidagal contra a Holanda, torci de forma discreta, sem fazer alarde, sem vuvuzela. A jabulani corria alegre, como seu nome já diz, no gramado sul-africano e eu estava vendo um filme japonês. Sabia que o jogo estava na prorrogação, mas temia perguntar a alguém do desenrolar da partida. Um espectador que ouvia a partida pelo rádio do celular anunciou para as pessoas que estavam próximas dele: "Gol, a Espanha marcou". Na sala, ninguém reclamou do barulho. Todos queriam saber o placar, mas também não ousavam manifestar interesse: vai que dá zica. O sofrimento continuou e, logo depois, o mesmo comentarista anunciou: "faltam dois minutos para acabar". Foram os dois minutos mais longos que nossos relógios acompanharam. Por fim, ele fez sua última observação: "O jogo acabou. a Espanha é campeã". No escuro da sala, outra voz se ergueu, em portunhol: "Soy hijo de espanhois. Voy cantar um passo doble". Por sorte, ele não cumpriu a promessa. Em seu aquário, Paul suspirou aliviado, pois sabia que escaparia da panela.