Quando era criança tive cachorros, agora tenho gatos. Mas nunca deixei de simpatizar com os caninos, principalmente depois de ler Jack London e de observar nas ruas os cães que seguem seus donos sem teto e se esquentam em baixo de alguma marquise, no chão forrado com papelão. Eles sabem que o homem enfrenta dificuldades e por isso dividem seu espaço e até sua comida com ele.
Mas nunca havia visto um cão revolucionário, como Lukanikos, o vira-lata grego que acompanha os manifestantes em seus protestos contra a crise econômica do país e enfrenta a polícia sem medo. Os manifestantes se protegem com lenços molhados e máscaras contra gás, mas Luka vai com o focinho e a coragem. Já vi por aqui labradores, com um lenço com a estampa de Che Guevara no pescoço, mas não traziam nos olhos aquela chama ardente de clamor por justiça e solidariedade, como vemos em Lukanikos. Mais pareciam ex-comunistas gordos atracados em algum bom cargo público, como navios com o casco enferrujado e que nunca mais voltarão ao mar.
Se eu tivesse um cão, queria que fosse como Luka (já até abreviei seu nome), destemido e amigo dos mais fracos. Na verdade um cão humanista do qual pudesse receber o conforto nos momentos dificeis. Provavelmente não o levaria para passeatas (já respirei minha dose de gás lacrimogêno na juventude), mas ele dividiria comigo a leitura dos jornais. Tenho certeza que latiríamos em concordância nas páginas do noticiário político.