sexta-feira

O dia em que Woody Allen virou pão de queijo

Nos anos 80 ou final dos 70, quando a criatividade rolava solta na redação do Jornal da Tarde, um copy deu o seguinte título para uma matéria sobre o sucesso de uma nova loja de pães de queijos, que hoje é uma franquia famosa: "De repente, filas para comprar pão de queijo". Os jornalistas que conhecem a história adotaram essa expressão para se refererir a qualquer coisa de sucesso de público. Pois não é que de repente as pessoas fazem filas para ver um filme de Woody Allen?

Meia-noite em Paris virou mania em São Paulo e foi visto por pessoas que amam Woddy Allen, pesssoas que o odeiam e pessoas que não sabem de quem se trata, mas ouviram falar que o filme é maravilhoso e "precisa" ser visto. Até quem foi ver outro filme e se arrependeu da escolha acaba dando a mão à palmatória: "Por que não fui ver o filme do Woody Allen?"

O filme estreou há várias semanas e ainda lota as sessões, principalmente nos fins de semana, nos horários nobres (entre 18 e 22 horas), quando ir ao cinema é o início ou o encerramento de um bom programa de fim de semana.

Dá gosto ouvir a plateia cair na gargalhada com uma piada envolvendo a testosterona exacerbada de Hemingway ou a obsessão de Salvador Dalí com rinocerontes. Ao aconselhar um colega de trabalho a ver o filme, o amigo fez uma ressalva: "Se você conhecer os personagens reais vai se divertir mais ainda". É a pura verdade.

Quem dedicou algumas horas de seu tempo para ler obras de Hemingway, Fitzgerald e T.S. Elliot, ver filmes de Luis Buñuel e contemplar quadros de Picasso e Dali ou ouvir canções de Cole Porter, certamente se divertirá mais. Que sirva de lição para o futuro: leia bons romances e poemas, acompanhe exposições de arte, ouça muito jazz porque, quem sabe, você precisará dessa experiência no futuro para poder dar boas risadas no cinema. Pelo menos, fica a sensação de que o tempo não foi perdido e a televisão desligada não fez falta alguma.