segunda-feira

"Billie Jean é só uma garota que diz que eu sou único"


[há uns dois ou três anos, quando ele foi acusado de abuso sexual contra um adolescente (foi absolvido), eu disse para um amigo: quem compõe uma música como "Billie Jean" não pode ir para a cadeia. Hoje refaço a frase: quem compõe uma música como Billie Jean não pode morrer. E o melhor tributo ao artista é ouvir Billie Jean na voz de Caetano Veloso, também o melhor intérprete para Lennon e Mcartney. Miles Davis, que sabia das coisas e gostava de Michael Jackson, gravou Human Nature. Assista apresentação de Davis na Alemanha, no YouTube.]

terça-feira

[agoniza mas não morre?]

[um velho samba de Nelson Sargento diz em um de seus versos mais conhecidos que "o samba agoniza, mas não morre", pois alguém sempre o socorre "na hora do suspiro derradeiro". Quanto ao jornalismo, já não tenho tanta certeza e também não temos tão bons poetas assim na profissão que possam, nesse momento agonizante, trazer uma palavra de alívio, principalmente para quem ainda está nas faculdades de Comunicação ou está prestes a se formar. A decisão do STF em acabar com a regulamentação da profissão de uma penada, com o único e voto contrário do ministro Ayres Brito (que tem tido ultimamente posições coerentes e bem fundamentadas em assuntos polêmicos, como a liberação de células troncos para pesquisas), parecia já uma bola cantada. No jogo de sinuca, bola cantada é aquela em que o jogador diz antecipadamente em que caçapa vai cair. Não existe surpresa.

A regulamentação da profissão, de 1969, começou a cair em 1979 quandos os jornalistas de São Paulo entraram em greve por aumento de salário e foram derrotados. Um reduzido grupo de colegas furou o movimento e passou a morar nas redações para impedir que os jornais deixassem de circular. Um jovem herdeiro de jornal de São Paulo disse a amigos que os jornalistas não eram confiáveis. Com o fim da greve, todos os jornais, rádios e TVs demitiram profissionais em massa.
Até então, uma geração de jovens profissionais, formados pelas faculdades de jornalismo, convivia sem muitos problemas com os jornalistas mais velhos não diplomados, que se formaram na chamada escola da vida, pois vinham de uma época em que não existiam escolas especializadas. Eles eram os modelos de profissionais nos quais nos espelhávamos e muitos deles foram nossos grandes e desinteressados professores. Havia uma efervescência nas redações. Era uma época politicamente muito rica.

O segundo passo contra a regulamentação da profissão e consequentemente pelo fim da obrigatoriedade do diploma, veio a seguir, quando alguns jornais (poucos) passaram a ignorar a regulamentação e passaram a contratar pessoas sem diploma. Para o leitor, passava-se a idéia de que viriam melhores profissionais. Passou-se a exigir que os candidatos a jornalistas tivesse pós-graduação, mestrado, doutorado, em qualquer área. A imprensa começou a flertar mais de perto com o meio acadêmico. Naturalmente, os horários de trabalho em uma redação que chegam a 12 horas por dia de segunda a quinta e mais de 15 horas na sexta-feira (quando começa a ser fechado antecipadamente o jornal de domingo), com jornadas de 14 dias de trabalho sem folga (em média), não permitiam esas veleidades intelectuais.

Quando foi demitido do São Paulo, o técnico Muricy Ramalho disse aos jornalistas: "Vocês não sabem 10% do que acontece dentro de um clube de futebol". Ele riu de um jeito debochado, como é sua marca, mas dava para sentir uma ponta de mágoa. Afinal, ele sofreu calado até ser apunhalado pelas costas. Mas manteve o bico fechado. É do jogo. Quem recebe seu jornal em casa ou o compra numa banca não sabe nem 10% do que acontece dentro de uma redação e que se reflete nas notícias publicadas. Não sabe das listas negras (desculpe o termo politicamente incorreto), das campanhas contra políticos, sindicalistas, atletas, intelectuais, artistas.

E chegamos hoje ao fim da regulamentação da profissão. A vingança é um prato que se come frio, e os donos dos veículos de comunicação foram pacientes. O que vai acontecer daqui para a frente não se sabe. Pode haver uma perseguição contra os jornalistas formados e sua substituição por profissionais de outras áreas; pode ficar mais difícil o acesso dos jornalistas diplomados às redações; pode cair a qualidade dos jornais. Mas, de certo mesmo, houve a derrota de uma categoria profissional que esteve sempre identificada com as grandes lutas do país: contra a ditadura, pela anistia, pelo respeito à cidadania e aos direitos humanos (bandeiras que não eram necessariamente defendidas pelos empresários da comunicação). Os jornalistas que ajudaram a escrever alguns parágrafos da história do país saem de campo e voltam para casa, no meio do campeonato, derrotados. E pior: querem fazer crer que não sabem jogar. ]

sábado

"perguntar é uma maneira de sobreviver no mundo"]

O escritor e tradutor João Silvério Trevisan disse, em um artigo publicado no site Paraná on Line, que já se perguntou diversas vezes para que serve a literatura. "Instigado por diferentes circunstâncias, já fiz essa pergunta inúmeras vezes em minha vida. De modo até angustiado. Afinal, quem tem tempo para ler romances em época de TV a cabo e internet? Por que criar novos mundos se o mundo ao meu redor já é duro demais para ser ignorado? Acima de tudo: o que posso acrescentar ao drama humano, já tão saturado com as brilhantes interpretações feitas por tantos “Homeros”, “Dantes”, “Shakespeares” e “Cervantes” que vieram antes de mim? "
Eu também já me fiz essa pergunta inúmeras tantas vezes. E, em cada ocasião, encontro uma resposta diferente, fruto de quem sou ou de como estou naquele dia. Às vezes sinto que ela não serve para nada. Outras, que ela serve de refúgio ou é uma fuga do presente. Olho para trás e me vejo, desde a infância, abrindo livros. E, desde aquela época, tenho a sensação que estou me escondendo ou fugindo de alguma coisa, ou que não quero encarar a realidade. Acho que esse podia ser um bom tema para uma das próximas Tertúlias.

quarta-feira

[um perdedor de cem anos]

O escritor Tomás Eloy Martínez publicou um interessante ensaio no New York Times sobre o uruguaio Juan Maria Onetti, cujo centenário de nascimento é comemorado este ano. Ele enfatiza a eterna desilução do escritor, suas histórias trágicas, o fascínio pela derrota. Dele só li o volume de contos Tão Triste como ela, que é muito bom. Vou começar logo El Pozo, seu primeiro romance, que ganhei de uma amiga numa bonita edição em espanhol.

[Ele próprio, Onetti, disse à escritora e jornalista uruguaia María Esther Gilio: "Todas as personagens e todas as pessoas nasceram para a derrota. A gente não pode deter a trajetória da personagem em um instante de triunfo mas, se continuarmos, o final é sempre Waterloo". Talvez por isso chegou em segundo lugar em quase todos os prêmios aos quais concorreu. Mas o último, e o mais importante na língua espanhola, o prêmio Cervantes que recebeu em 1980, serviu-lhe como conjuro contra as rejeições.
Tomás Eloy Martinez]

terça-feira

[plagiador premiado]

O site Digestivo Cultural trouxe hoje um texto do escritor gaúcho Moacir Scliar comentando o curioso caso de plágio de uma obra sua por um escritor canadense, que recebeu ainda um importante prêmio litérário pela idéia plagiada. Sem rancor e de forma equilibrada, o escritor brasileiro comenta todo o caso, que ainda teve repercussões internacionais. Sugiro a leitura. Vejam abaixo pequeno trecho do artigo de Scliar:

[o destino ainda bate à porta, claro, mas nesta época de comunicações instantâneas prefere o telefone. Na tarde de 30 de outubro de 2002, voltando para casa cansado de uma viagem, recebi uma ligação. Era uma jornalista do jornal O Globo, dando-me uma notícia que, a princípio, não entendi bem: parece que um escritor tinha ganho, na Europa, um prêmio importante com um livro baseado em um texto meu. Minha primeira reação foi de estranheza: um escritor, e do chamado Primeiro Mundo, copiando um autor brasileiro? Copiando a mim? Ela se ofereceu para me dar mais detalhes, o que foi feito em telefonemas seguintes, e assim aos poucos fui mergulhando no que se revelaria, nos dias seguintes, um verdadeiro torvelinho, uma experiência pela qual eu nunca havia passado. Sim, um escritor canadense chamado Yann Martel havia recebido, na Inglaterra, o prestigioso prêmio Booker, no valor de 55 mil libras esterlinas, conferido anualmente a autores do Commonwealth britânico ou da República da Irlanda (entre outros: Ian McEwan, Michael Ondaatje, Kingsley Amis, J.M. Coetzee, Salman Rushdie, Iris Murdoch). Sim, ele dizia que havia se baseado em um livro meu, Max e os felinos, publicado no Brasil em 1981, pela L&PM (Porto Alegre), e traduzido poucos anos depois nos Estados Unidos como Max and the Cats (Nova York, Ballantine Books, 1990) e na França como Max et les Chats (Paris, Presses de la Renaissance, 1991). É uma pequena novela que escrevi com grande prazer ― lembro-me de um fim de semana na serra gaúcha em que matraqueava animado a máquina de escrever, em todos os minutos em que não estava cuidando de meu filho, ainda pequeno. Minha primeira reação não foi de contrariedade. Ao contrário, de alguma forma senti-me envaidecido por ter alguém se entusiasmado pela ideia tanto quanto eu próprio me entusiasmara. Mas havia, na notícia, um componente desagradável e estranho, tão estranho quanto desagradável. Yann Martel não tinha, segundo suas declarações, lido a novela. Tomara conhecimento dela através de uma resenha do escritor John Updike para o New York Times, resenha desfavorável, segundo ele. Esta afirmativa me perturbou. ]

segunda-feira

[TERTÚLIA VIRTUAL - mi casa es su casa]

[me sinto em casa na casa de meus amigos. Posso ir sozinho à cozinha, abrir a geladeira e pegar uma cerveja, receber a atenção dos cães e gatos da família, que já conhecem o meu cheiro, folhear os livros nas estantes. De alguns desses amigos recebi pedaços de suas casas: uma planta do jardim, um enfeite, uma garrafa de bebida, pimentas secas mexicanas. Uma amiga mudou-se para uma casa menor e me presenteou com quadros, livros e móveis que não caberiam no apartamento menor. Seu marido me doou algumas ferramentas que ele usava para cuidar do jardim e que agora não teriam serventia em seu apartamento. Sua filha levou o cachorro.
Para um amigo que mora em apartamento, retirei de meu quintal uma muda de bananeira para ele colocar em sua sala como planta ornamental. Ela não dará frutos, mas se tornará uma personagem exótica que chamará a atenção dos visitantes, pela exuberância e tamanho de suas folhas largas.

Da casa de meus pais levei mudas de flores e de árvores frutíferas, num retorno à minha infância. Hoje elas atraem pássaros, borboletas e outros insetos. Quando era criança, guardava as joaninhas em caixas de fósforo e buscava vaga-lumes que eram comuns nos terrenos baldios repletos de vegetação. Pensei em fazer coleções de borboletas, mas desisti porque teria de matá-las e espetá-las numa cartolina. Construía belos estilengues, com forquilhas resistentes de galhos de goiabeira e tiras de borracha de câmera de bicicleta, mas nunca matei um passarinho. Sempre mirava as pelotas de mamona a dezenas de metros do bicho. Talvez tenha faltado um pouco de crueldade na minha infância, que eu compensava com a habilidade na batalha de pipas e na construção de carrinhos de rolimã.

Na época minha casa era também a casa de um amigo, filho de imigrantes libaneses, que morava na mesma rua, onde eu me banqueteava com kibes, esfihas e doces árabes, servidos numa mesa farta. A irmã dele, exuberante aos 15 ou 16 anos (eu tinha apenas 13), colocou na vitrola e eu ouvi pela primeira vez Help, dos Beatles, e Lady Jane, dos Rolling Stones. Os hormônios começavam a ferver, mas eu ainda lia gibi do Super-Homem e colecionava figurinhas.]

Esse é uma postagem da blogagem coletiva da Tertúlia Virtual, cujo tema é "Que lugar te faz sentir em casa"

sábado

[o que restou]

Inês e Abraham Metri, durante as filmagens de Liberdade de Pé

[sempre perdemos coisas pelo caminho. Os amantes perdem as meias, botões da camisa abertas com impaciência, peças de roupas que são rasgadas pois não se consegue tirá-las com a rapidez desejada, a rapidez da paixão, que é maior que a velocidade da luz. Às vezes deixamos rastros, como os pedacinhos de pão lançados por Joãozinho e Maria, que acabaram comidos pelos passarinhos. E com isso nos perdemos. Descobri que o Eduardo, sinhozinho do Varal de Ideias, dono de dezenas de cabeças de blogs (que estão engordando a olhos vistos), perdeu um filme, cuja personagem é uma colega jornalista que também já perdemos, Inês Knaut, com quem trabalhei na Folha de S. Paulo, no século XX. Convivi pouco com ela e não sabia de seu passado de modelo e atriz. Lembro que trabalhava na editoria de Geral, que hoje é Cotidiano e fazia aquelas reportagens que os jovens jornalistas sempre são incumbidos de fazer que sempre são chatas. Acho que ela escrevia sobre saúde. Ironia, ela que conhecia os melhores médicos, que os entrevistava a qualquer hora, perder a batalha para o câncer.


Pois o Eduardo perdeu um curta metragem que rodou com ela chamado Liberdade de Pé, do qual restam algumas fotos feitas pelo diretor de fotografia Abraham Metri. Quantos filmes, quantas músicas, quantos livros hoje guardamos na memória pois já não existem. É triste perdermos pedaços de nossa vida, de nosso corpo, pelo caminho. Mas que bom que ainda podemos lembrar e recriar o que foi perdido com uma obra nova, original. A palavra preserva a imagem perdida, o som perdido, o cheiro perdido. Preserva até o amor perdido que, quando acaba, vira poema. ]

sexta-feira

[corpo do homem]

Do blog de José Saramago, a propósito do Corpus Cristi:

[há alguns dias, no 28 de Maio para ser mais exacto, um boliviano de 33 anos, de nome Fraans Rilles, emigrante “sem papéis” e sem contrato, que trabalhava numa padaria em Gandia (Espanha), foi vítima de grave acidente, uma máquina de amassar cortou-lhe o braço esquerdo. É certo que os patrões tiveram a caridade de o levar ao hospital, mas deixaram-no a 200 metros da porta com uma recomendação: “Se te perguntam, não digas nada da empresa”. Como seria de esperar, os médicos pediram o braço para tentar reimplantá-lo, mas tiveram de desistir da ideia perante o mau estado em que se encontrava. Tinham-no atirado ao lixo.

Afinal, eu não queria escrever sobre o Corpo de Deus. Como é meu costume, uma coisa levou a outra, mas era do Corpo do Homem que eu pretendia realmente falar, esse corpo que, desde a primeira manhã dos tempos, vem sendo maltratado, torturado, despedaçado, humilhado e ofendido na sua mais elementar dignidade física, um corpo a quem agora foi arrancado um braço e a quem foi ordenado que se calasse para não prejudicar a empresa. Espero que os fiéis que hoje acorreram à missa e leram a notícia no jornal tenham tido um pensamento para a carne sofridora e o sangue derramado deste homem. Não peço que o ponham num altar. Só peço que pensem nele e em tantos como ele. ]

quarta-feira

[a importância dos felinos como indicadores da saúde dos ecossistemas]

Um dia, um gato.

[eu não resisto a um bom título. O título deste post não é meu, é do Hunter, que o utilizou com a mesma foto em seu blog, The dear hunter, uma brincadeira divertida com o filme The deer hunter, dirigido por Michael Cimino, em 1978 (não lembro como se chamou no Brasil, mas fez muito sucesso na época). A foto também foi vista no Varal de Ideias e eu a reutilizo aqui em terceira mão (precisamos pensar no bem do planeta e reciclar o conteúdo dos blogs constantemente).
O sofá é velho mas não parece maltratado. Suas almofadas estão em bom estado mas foram colocadas de forma completamente irregular: Não convidam ao descanso -- e nem chamaram a atenção do gato, que desprezou o móvel para afiar as unhas. A parede, com o reboco caído e pedras à mostra, remete a um passado mais seguro, quando os muros eram mais sólidos e as vias de passagem podiam ser utilizadas por qualquer um, sem nenhum perigo. A calma, reforçada pelo andar despreocupado do gato, conduz a um tempo em que podíamos andar sem rumo, livres da escravidão do relógio, preocupados apenas com as notícias meteorológicas e o tempo do plantio e da colheita. A própria foto, em preto-e-branco, lembra cinema mudo, palhaçada de Carlitos. O cinema nos tirava da vida durante duas horas e nos devolvia diferentes. Na saída, éramos outra pessoa nos mesmos corpos. Até pisávamos mais leve no chão.]

terça-feira

[no coração do village]


cheguei ao blog Greenwich Village Daily Photo por meio de um link no blog da Sonia Mascaro. Ele é como a Lina Faria e não se cansa de fotografar seu bairro, o inquieto Village de Nova York, lugar de gente descolada, galerias de arte, bares de jazz. O autor, o jornalista nova-iorquino Ken Mac, mostra detalhes da arquitetura, das fachadas dos prédios, do ambiente do bairro. É uma decadência deliciosa que atrai os viciados na vida em metrópoles, longe do campo e perto das pessoas.

[vargas llosa ganha prêmio don quijote]

Deu no Estadão:

O escritor peruano Mario Vargas Llosa conquistou o Prêmio Internacional Don Quijote de La Mancha 2009. Autor de romances como Conversas na Catedral, Travessuras da Menina Má e O Elogio da Madrasta, Vargas Llosa recebeu o prêmio pela mais destacada trajetória individual, por seu trabalho como romancista, ensaísta, crítico literário, jornalista e intelectual comprometido com seu tempo.

[corações curitibanos]


[filha de peixa, peixinha é. Anaterra Viana herdou não apenas os traços físicos da mãe. Também tem o olho apurado e o dedo firme no obturador, como Lina Faria, para obter resultados como o que veem aqui: dois corações enlaçados que se aquecem no frio de Curitiba.]

segunda-feira

[o orquídea e o tequila]

[nos fins de semana novos viajantes se apresentaram aqui. Houve overbooking! Mas todos conseguiram lugar. Depois que o Eduardo embarcou, um número maior de blogueiros fez check-in e pediu para ficar na janelinha. Pode ser coincidência, mas acho que a agência de viagens dele, o Varal de Ideias, é muito boa. Como sempre, as mulheres são maioria: Lilia Abreu, do blog Arco Íris da Vida, manda sinais de Lisboa, onde a primeira viagem que deu origem a este país começou. Entre seus interesses estão a yoga do riso, que deve ser uma terapia baseada nas gargalhadas que damos quando o yoguista praticante dá um nó no corpo e precisa da ajuda de um bombeiro para desatar; Ana Vasques, de Imbituba (SC), se auto-define uma "inquieta apreciadora de artes", que talvez seja aquela pessoa que fica na frente do quadro no museu andando de lá pra cá e não deixa você apreciar parado; Cristiane, do blog Notícias da Bota, tecla de Florença, que percorri duas vezes. O blog dela tem notícias bem interessantes sobre a Itália e informações para os ítalo-brasileiros como eu que se emocionam ao enrolar um espagueti no garfo (sem cortar!); Fernando Tubbs, catarinense de Jaraguá do Sul, é do Blog do Tubera, que fala sobre cultura e marketing. Ele cita uma frase de Lao Tsé: "Não sabendo que era impossível, ele foi lá e fez." É uma inversão da filosofia corintiana: "Sabendo que era impossível, ele foi lá e fez". Barbara, que tecla de Petrópolis (RJ), terra da Itaipava, é dona do blog Lesados em Geral, onde ela escreve sobre tudo, principalmente cultura e outras leseiras. Lá aprendi que a orquídea é uma flor masculina e o correto é chamá-la de o orquídea. Um amigo mexicano também me ensinou que tequila é masculino. Se for à floricultura peça um orquídea. Se for ao bar, um tequila. É esquisito, mas é correto. Se você não tiver coragem, peça uma rosa e uma pinga, que não tem erro. ]

[estação da carioca]

[descobri este videopoema no blog pra não ficar na gaveta, da poeta carioca Alice Sant'Anna. Gostei de sua delicadeza e do humor. Gosto também das múltiplas formas em que o poema se transforma com uso de novas molduras ou suportes, como gostam de dizer os artistas contemporâneos. Imagem também é palavra. ]

Veja o Estação da carioca no Youtube:

Em tempo: eu tentei colocar o vídeo aqui e não consegui. Alguém sabe como se faz?

domingo

[novos tempos do cisne branco]

[entrei no blog da Laura Diz e ao ler um post sobre o Moacy Cirne fui direto para o blog dele, de onde cheguei ao site do Luiz Nassif no qual uma notícia dava link para o portal da Aeronáutica, que desmentia reportagem da revista Época sobre o acidente da Air France. Mas, o curioso (pelo menos para mim), foi descobrir no portal da Aeronáutica um link para a Rádio da Aeronáutica. Como gosto de coisas inusitadas, entrei pensando que ia ouvir o Cisne Branco em várias versões. Mas, para minha surpresa, descobri uma rádio pop, tocando baladinhas românticas EM INGLÊS, algumas dos anos 60. Aqueles mesmos anos 60 que, deixa pra lá. Agora Louis Armstrong está cantando "That's a wonderful world". Realmente, esse mundo é maravilhoso. ]

sábado

["os personagens me perseguem"

Do jornalista e escritor catarinense Salim Miguel:
[na barriga da minha mãe eu já dizia que queria ser só duas coisas na vida: jornalista e escritor. O jornalista precedeu ao ficcionista, mas o ficcionista que eu sou deve muito ao jornalista, porque o jornalismo me ensinou a ter uma maior visão das coisas, a escrever com muita rapidez e a ter a noção do que é essencial no texto. O ficcionista, por sua vez, fez com que eu fosse muito lento para concluir um trabalho de ficção. Quando eu terminava a primeira fase da escrita, quer fosse um conto, uma novela, um capítulo de um romance, eu deixava dormir primeiro por alguns meses e depois retomava para começar a mexer, a cortar. Porque, ao contrário de um amigo meu muito próximo, que faz uma planta baixa da sua escrita, antes de começar, eu, quando começo, eu não sei o que vai sair dali, mesmo porque eu não saio atrás dos personagens, eles é que me perseguem.]

[vinte visitantes on line]

Nesse exato momento, 20 pessoas estão aqui lendo esses posts. Gente, que coisa incrível!

["meu abstrato gosto de outono"]

Collage 14, de JU Gioli.

Do blog @ Dis-cursos, de JU Gioli

[Outono
Destes que inundam de claridade todas as coisas. E, começa o dia com a beleza da manhã sobre a janela, felizes em recuperar a luminosidade misteriosa desta estação, derramando-se pelas ruas sem cerimônias: os vermelhos e ocres de infinitas misturas. (...) Eu adoro toda essa claridade, é como uma vitrine de teatro, onde as luzes estão bem equilibradas, ampliando o espaço do céu, revertendo uma temperatura mais agradável. E, para brindar esse dia de outono, ouço Beethoven, um adágio deslumbrante para violino, que combinou perfeitamente com todos esses dourados explícitos no ar. Não poderia ser melhor: adágio allegretto, dando forma sensual às linhas do entardecer com esta cor de açafrão. Lentamente, fui saboreando... como quem saboreia na paleta, meu abstrato gosto de outono
.]

sexta-feira

[latifúndio digital]

[começou a nos acompanhar o artista plástico Eduardo P. L., de Imbituba, Santa Catarina, que é também frequentador do blog da Lina Faria, Não Lugar. Comecei a escarafunchar em seu perfil e descobri que ele é um latifundiário digital: tem 18 blogs! Até onde eu contei e pode ser que eu tenha contado errado, porque jornalista não é bom de matemática. Vai demorar um tempinho para eu visitar todos os blogs e fazer comentários, mas até onde pude ver, fotografia e artes plásticas são os temas mais frequentes. De todos, naveguei mais pelo Varal de Ideias (agora sem acento) e O Último Blog. Agora somos 14 viajantes e eu nos remos.]

quinta-feira

[palavra favorita]

Do blog do colunista Ancelmo Góis, do Globo:
[qual a sua palavra favorita na língua portuguesa? Foi o desafio proposto a 35 autores do idioma, de cinco países diferentes, para o Dicionário Amoroso da Língua Portuguesa, organizado pelo bamba Marcelo Moutinho e pelo editor português Jorge Reis-Sá, que sai agora, pela Casa da Palavra.

Entre os 35 autores, estão desde jovens cujo talento desponta já nos primeiros livros a autores que, reconhecidos por público e crítica, ganharam prêmios literários como o Portugal Telecom, o José Saramago, o Jabuti e o Machado de Assis. Eles escolheram 35 palavras diferentes e tiveram a liberdade de trabalhá-las da forma que preferissem - contos, poemas, ensaios -, desde que expressassem uma sintonia de sentimentos por meio das letras.
Orientação segura: não dá para perder.


Uma das obras...
Leia um trecho de "Casa", de Fabrício Carpinejar:

A palavra casa foi centro de meu primeiro poema falso. O primeiro poema roubado. Meu pai ainda diz que falei quando pequeno o verso “a casa da árvore é a casa de Deus”. Quem disse foi o meu irmão Rodrigo, dois anos mais velho, e não adianta convencê-lo. Sempre que alguém me empresta um verso, não devolvo. Fico constrangido em negar. A vaidade não conta os trocos. Casa é a palavra mais bonita da língua portuguesa, porque é a mais usada e não perde seu viço. Casa é onde e quando. Junta as pessoas, junta duas escovas de dente, junta fotos e canetas, junta sapatos, junta dores e alegrias. Morre-se por uma casa, para pagar uma casa, para merecer uma casa. No casamento, o corpo se sente desobrigado a fazer tudo sozinho. O corpo casa com a casa. Toda mulher é uma casa dentro da casa. Com uma mulher dentro, a casa se torna na verdade um quarto. Ao sair do banho, a mulher é um bosque perfumado. Posso passar toneladas de xampu, de sabonete, de creme e não irei repetir a fragrância. A casa é uma mulher saindo do chuveiro. O perfume grosso de casca de árvore, não de pólen. (...) ]

terça-feira

["não se chora em paris"]

Do blog Olhares Loiros, do dramaturgo Mário Viana, sobre o acidente com o avião da Air France:

[nosso mal-estar também se mistura ao destino do vôo: Paris. Paris não é lugar de sofrimento, de dor ou punição. Quantos, dentre aqueles passageiros, não acordaram no domingo com um brilho excitado nos olhos: “Hoje eu vou pra Paris”. E os amigos, parentes, colegas sorriam de inveja, mesmo de quem fosse a trabalho. Não se chora em Paris – só nos filmes franceses. O acidente do Airbus traiu as expectativas de seus passageiros. Negou-lhes Paris e imprimiu, nos corações de quem sobreviveu, a imagem de uma dor que parece sem cura.]

[AF 447]

[o verso do Chico Buarque representa a pura verdade, a dor da gente não sai no jornal. Para os jornalistas, de certa forma habituados ao sofrimento humano, não existe nada pior do que ter de escrever sobre uma tragédia coletiva. Não duvidem que, no momento em que está escrevendo seu texto, pressionado pelo horário de fechamento, ele preferiria não estar ali. É uma sensação de derrota. Ali a dor dos familiares das vítimas também é sua. Acidentes como esse da Air France trazem a morte para mais perto de sua cadeira. Esse convívio com a morte é quase permanente e, por força dessa circunstância, teríamos que ter o coração mais frio. Mas não conseguimos. Nunca participei de coberturas como essa do voo da Air France, mas já vi colegas em situação semelhante tentando manter o equilíbrio num momento tão difícil. E como nessa hora a cobertura cresce em número de páginas, jornalistas de todas as áreas são convocados. Gente que escreve sobre economia, que escreve sobre música, que escreve sobre futebol acaba telefonando para familiares, para especialistas, autoridades. Não há como o jornalista fugir da morte, ela é a companheira mais incômoda em nossa viagem. E ela sempre nos testa, mede nossos nervos, aperta o coração e faz tudo para desistirmos. E nós continuamos, cada dia mais fracos.]

segunda-feira

[os escritores já não têm mais tempo para escrever]

De reportagem de Ubiratan Brasil no Caderno 2

[luis Fernando Verissimo está a dois capítulos do término de seu novo livro, Espiões; Cristóvão Tezza só tem rascunhada uma ideia; Ignácio de Loyola Brandão sabe apenas que vai escrever para o público infantil - grandes escritores da literatura brasileira reuniram-se no fim de semana em São Francisco Xavier, charmoso distrito de São José dos Campos, onde participaram do 2º Festival da Mantiqueira - Diálogos com a Literatura, mostra literária promovida pela Secretaria do Estado da Cultura. E boa parte deles ainda busca tempo para dar prosseguimento à sua carreira.

O impasse é curioso: ativos participantes de encontros literários (modalidade que aumenta expressivamente em quantidade pelo País), eles cumprem com o que julgam ser uma saudável obrigação - divulgar a literatura - mas se ressentem justamente do sossego para continuar a exercer esta mesma literatura. "Escrevo nas horas vagas", conta Verissimo, que confessou ter na música uma paixão levemente superior. "Se pudesse, tocaria mais com minha banda do que escreveria." ]

Leia a reportagem completa: