quarta-feira

escritores ou inscritores

Luís Antônio Giron é um ótimo jornalista e escritor. Grande conhecedor de música clássica e popular, escreveu uma bela biografia sobre Mário Reis (Mário Reis - o fino do samba). Às vezes o encontro em cabines de cinema (sessões de filmes para críticos e jornalistas) e concertos. Gosta de uma polêmica e não teme emitir sua opinião. Mas, ao contrário de tantos "colunistas" polêmicos que hoje campeiam pelas páginas dos jornais e revistas, seus artigos sempre tem substância. Valem a pena ser lidos e discutidos.

Ontem, no site da revista época, ele tocou num vespeiro: os critérios dos concursos literários brasileiros que premiam sempre as mesmas pessoas, deixando de reconhecer os novos talentos. Recomendo a leitura.

Escritores ou inscritores?

terça-feira

ritmo

"Que eu me desenrole nas páginas e não me complique nos parágrafos, que eu não tropece nos velhos erros e que os braços acompanhem o ritmo das pernas. "
Ilana Copque

olhos verdes

Deu no Diário de Pernambuco:

A polêmica em torno do Prêmio Jabuti de Livro do Ano, na categoria ficção, dado ao romance Leite derramado, de Chico Buarque, tem colocado em evidência os interesses comerciais e ideológicos que existem por trás dos concursos literários. Em meio ao confronto entre dois gigantes do mercado editorial (Record X Companhia das Letras), deflagrado este ano via declarações, artigos veiculados na imprensa nacional e petições entre fãs e opositores de Chico, o Diario resolveu investigar como funcionam os três principais prêmios de literatura do país.

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sexta-feira

Eu fui a Penha pedir à Padroeira para me ajudar

Vista assim do alto, mais parece o céu no chão.....



A primeira foto está no blog Fotos Maravilhosas
O campo de batalha é de Marcelo Sayad, da agência EFE

segunda-feira

vamos para os pênaltis

Todo corintiano sabe que nada é fácil. As bolas batem na trave, passam triscando e os gols demoram a aparecer. Às vezes entram no último minuto, às vezes nem isso. Mas, confiamos nos nossos batedores de pênalti. Ainda dá para levantar a taça.

terça-feira

noir veneziano

Notas para a criação de um detetive noir: um gondoleiro veneziano que divide seu tempo entre conduzir turistas em sua gôndola e desvendar crimes.

Nome: Nino
Características pessoais: Barrigudo (bom disfarce para um detetite), careca e com o rosto marcado por crateras deixadas por uma adolescência infestada por acnes. Quando está sozinho em sua gôngola, costuma cantar canções napolitanas, que ouvia da mãe, uma enfermeira apaixonada por Ugo Tognazzi.

Prato predileto: pasta e fagioli (prato típico veneziano, a base de feijão e macarrão). Bebe cerveja Moretti, birra muito popular na Itália.

Informantes: Nino usa como informantes vendedores do mercado de peixe (costuma ser rápido nas conversas, pois o cheiro do local é insuportável), um negro que vende óculos escuros perto na estação ferroviária (mas é uma fonte difícil de ser localizada, pois está sempre fugindo da polícia, com medo de ser deportado), um fiscal de vaporeto e um restaurador de quadros, especializado em Tintoreto.

Clientes: Como em toda história noir, seus clientes são mulheres deslumbrantes (perfil no qual se encaixam quase todas as italianas a partir dos 12 anos de idade), que tiveram o marido assassinado por algum misterioso personagem ligado à Mafia.

Devido ao seu porte físico avantajado, encontra dificuldades na tarefa de seguir suspeitos. O fato de se deslocar com uma gôndola, também não ajuda muito, pois é sempre obrigado a parar a investigação para receber passageiros. Se não fizer isso, pode ter sua licença suspensa pelas autoridades. Por esse motivo nunca conseguiu solucionar um caso sequer durante o verão (mas nunca volta de bolsos vazios para casa).

Nino mora numa espelunca (uma água furtada parece ser ideal), onde divide o espaço com um gato que sobreviveu a três quedas no Grande Canal. Desde então, o felino se recusa a deixar o quarto e só sai da cama para usar sua caixinha de areia. O bicho ficou tão gordo quanto o dono e tem dificuldades respiratórias, o que o obriga a respirar de boca aberta. Nino, que tem pouco tempo livre, sente a consciência pesada por não poder cuidar melhor do animal.

Segue.....

quarta-feira

coração centenário

Me considero um sujeito de sorte. Se tivesse descendentes, poderia reuni-los numa noite de outono (a melhor estação do ano), provavelmente em abril (o mês mais sonoro do ano) para dizer-lhes como sou felizardo por ter desembarcado nesse planeta e ter sido testemunha de pelo menos quatro fatos que não mais se repetirão na história da humanidade:

1)Comício das Diretas - Eu passei pelo Comício das Diretas Já,no Anhangabau, depois de sair do trabalho, no prédio dos Diários Associados. Peguei o elevador no 11º andar (ou seria o sétimo?), cumprimentei Carioca, o ascensorista paraibano que tinha por hábito aparar as unhas com um canivete, e caminhei da rua 7 de Abril até o Viaduto do Chá, passando pelo Mappin e pelo Teatro Municipal. O movimento era típico do centro à noite, quando as pessoas ainda iam ao cinema, às compras ou tomavam um último gole antes de voltar para casa. Me debrucei sobre as muretas do Viaduto do Chá, como num camarote do Teatro Municipal, e vi aquela massa humana, calculada em cerca de 1 milhão de pessoas. Não lembro se foi antes, ou depois, que assisti a um show do baterista Art Blakey, talvez o último que fez no Brasil, naquele mesmo teatro, naquela hora vazio.

Já tinha passado pelo mesmo viaduto, não sei se meses ou anos antes, também saindo do trabalho, no mesmo edifício da 7 de Abril, depois de uma passeata de estudantes. Havia uma névoa formada pelos gases das bombas que haviam sido lançadas pela polícia. Foi a primeira vez que senti cheiro de gás lacrimogêneo. Havia uma tensão no ar, mas naquele momento apenas os transeuntes caminhavam apressados pelo viaduto. Eu era um deles.

2) Cometa Halley - O cometa Halley, que passa pela Terra a cada 76 anos, me envaideceu ao voltar em 1986. Não vi sua cauda ou cabeleira pois a poluição de São Paulo cobre nossa visão do céu com um manto negro intransponível. Mas cheguei a escrever uma matéria para uma revista sobre o visitante ilustre. Talvez meu avô o tenha visto em 1910, em sua penúltima passagem pela Terra. Na roça, onde vivia, sua visão foi mais privilegiada que a minha.

3) O show Falso Brilhante - Vi o show de Elis Regina no Tuca, em 1976, e me arrependi de não ter assistido Trem Azul. Nunca mais a vi no palco. Quando ela morreu, em 1982, minha mãe me ligou para saber como eu estava. Eu ainda trabalhava no mesmo prédio dos Diários Associados. A namorada de um amigo que trabalhava comigo, reporter da rádio Globo, havia dado a notícia minutos antes. Jovem e intrépida, burlou a segurança dizendo que era da família e constatou que os rumores eram verdadeiros. Vi na televisão a multidão que parou a avenida Brigadeiro Luis Antonio no velório realizado no Teatro Bandeirantes. Fiquei muitos anos sem ouvir os LPs dela.

4 - Centenário do Corinthians - Ontem, à meia noite, ouvi uma grande queima de fogos, digna de final de campeonato. Não estava mais no prédio dos Diários Associados, que ficou para trás, mas em minha casa, assistindo a um DVD. Eram os corintianos do bairro que comemoravam o centenário de fundação do clube. A cena se repetiu em toda a cidade. Meu coração também bateu mais forte. Eu era personagem da história.

domingo

verão

De todas as versões de Estate, gosto mais da de João Gilberto, apesar do seu italiano de novela da Globo. Mas cada uma das que eu selecionei tem alguma coisa particular, seja na interpretação, na voz do cantor ou no balanço jazzistico dessa bela canção. Se eu tocasse violão, aprenderia os acordes.









sexta-feira

um autêntico Mário Viana

Mário Viana falando e Mário Viana escrevendo são absolutamente iguais. A piada rápida, a sacada esperta com que brinda os amigos nas rodas de conversas, são transpostas para seu texto de forma natural. Tenho grande dificuldade em escrever diálogos, pois quando os leio em voz alta soam muito artificiais. Por mais que me esforce para tornar o texto mais próximo do registro oral, não fico satisfeito. Mas o Mário é um exímio lapidador de diálogos. Me lembro muito das tiradas rápidas do Woody Allen, que emenda uma piada na outra e explora o politicamente incorreto. É difícil imaginar o humor sem o politicamente incorreto.

Fui ver "Vamos?" a nova peça que Mário estreou há uma semana, num dia frio, com teatro lotado. Nesse dia, ele comemorava o feito de ter cinco peças simultaneamente em cartaz. E todas com boa resposta do público e da crítica.  De todas as peças às quais assisti, "Vamos?" é a mais divertida. Acho que Mário chegou próximo da fórmula perfeita.

E a montagem, assinada por por Otávio Martins, tira proveito de um elenco bem entrosado que até parece fazer parte de uma companhia estável.

A história é simples e nasce de uma pergunta que muita gente já se fez: por que duas pessoas que são amigas não podem ir para a cama? Quem disse que isso arruinaria a amizade? Ao colocar dois casais em cena, com os mesmos interesses, Mário abre espaço para que a pergunta seja respondida. O resultado é um jogo divertido, em clima de comédia de erros e de stand up. Aconselho levar um caderninho para anotar as piadas e contá-las depois para os amigos. Ou então voltar para rir com as piadas novas que, com certeza, serão incorporadas.

terça-feira

quase...

Jabulani, vítima de maus tratos na África

Me rendo a minha insignificância futebolística, depois de acompanhar as peripécias de Paul, o polvo vidente. Errei quase todos meus prognósticos nessa copa chata e barulhenta. Não só: todas as seleções pelas quais torci foram eliminadas. Na final, decretei neutralidade para não prejudicar a Espanha pela qual, do fundo do meu coração e do ódio fidagal contra a Holanda, torci de forma discreta, sem fazer alarde, sem vuvuzela. A jabulani corria alegre, como seu nome já diz, no gramado sul-africano e eu estava vendo um filme japonês. Sabia que o jogo estava na prorrogação, mas temia perguntar a alguém do desenrolar da partida. Um espectador que ouvia a partida pelo rádio do celular anunciou para as pessoas que estavam próximas dele: "Gol, a Espanha marcou". Na sala, ninguém reclamou do barulho. Todos queriam saber o placar, mas também não ousavam manifestar interesse: vai que dá zica. O sofrimento continuou e, logo depois, o mesmo comentarista anunciou: "faltam dois minutos para acabar". Foram os dois minutos mais longos que nossos relógios acompanharam. Por fim, ele fez sua última observação: "O jogo acabou. a Espanha é campeã". No escuro da sala, outra voz se ergueu, em portunhol: "Soy hijo de espanhois. Voy cantar um passo doble". Por sorte, ele não cumpriu a promessa. Em seu aquário, Paul suspirou aliviado, pois sabia que escaparia da panela.

quinta-feira

o cão vermelho

Quando era criança tive cachorros, agora tenho gatos. Mas nunca deixei de simpatizar com os caninos, principalmente depois de ler Jack London e de observar nas ruas os cães que seguem seus donos sem teto e se esquentam em baixo de alguma marquise, no chão forrado com papelão. Eles sabem que o homem enfrenta dificuldades e por isso dividem seu espaço e até sua comida com ele.

Mas nunca havia visto um cão revolucionário, como Lukanikos, o vira-lata grego que acompanha os manifestantes em seus protestos contra a crise econômica do país e enfrenta a polícia sem medo. Os manifestantes se protegem com lenços molhados e máscaras contra gás, mas Luka vai com o focinho e a coragem. Já vi por aqui labradores, com um lenço com a estampa de Che Guevara no pescoço, mas não traziam nos olhos aquela chama ardente de clamor por justiça e solidariedade, como vemos em Lukanikos. Mais pareciam ex-comunistas gordos atracados em algum bom cargo público, como navios com o casco enferrujado e que nunca mais voltarão ao mar.

Se eu tivesse um cão, queria que fosse como Luka (já até abreviei seu nome), destemido e amigo dos mais fracos. Na verdade um cão humanista do qual pudesse receber o conforto nos momentos dificeis. Provavelmente não o levaria para passeatas (já respirei minha dose de gás lacrimogêno na juventude), mas ele dividiria comigo a leitura dos jornais. Tenho certeza que latiríamos em concordância nas páginas do noticiário político.

domingo

outra chance para as mães

Esperei o final desse dia chuvoso para falar sobre o tema.

Que falta faz uma mãe, principalmente para filhos edipianos. Quem vai nos dizer que somos os melhores?

Quem levou a mãe hoje para almoçar fora, fez uma má ação, pois os restaurantes estavam cheios, o serviço estava péssimo e elas mereciam ter comido coisa melhor que as bracciolas com macarrão mole.

Então, no ano que vem, para compensar a bola fora de hoje, preparem vocês mesmos o almoço, encham a casa de flores e não desgrudem delas um minuto sequer, para serem merecedores daqueles elogios de que tanto precisamos para atravessar a rua diariamente.

No ano passado foi assim

Você viu o novo filme do Woody Allen?

Fui ver no fim de semana Tudo Pode Dar Certo, de Woody Allen. Deu um sabor especial chegar à bilheteria e pedir: "um ingresso para o filme do Woody Allen" e o funcionário entregar o bilhete para o filme certo. Um homem que estava atrás de mim na fila fez o mesmo pedido. Em outro cinema, tenho quase certeza que o atendente não saberia de qual filme se tratava. Essa é a diferença entre ir ao Unibanco e à LIvraria Cultura ou ir a um multiplex da vida e a uma livraria comum.

Gostei do filme, principalmente dos diálogos saborosos e extremamente rápidos. Estava com o Mário Viana e ele fez um comentário que, pensando bem, resume o filme: "Esse é um roteiro antigo do Woody Allen". Nada a ver com a fase europeia do diretor, com temas mais elaborados (Match Point) ou completamente alucinados (Vicky Cristina Barcelona).

De certa forma, Tudo Pode dar Certo tem uma pegada à la Annie Hall, com uma linda mulher tontinha por quem é muito fácil se apaixonar, piadas rápidas e o recurso do personagem falar com a plateia. Está certo que Boris Yellnikoff, o personagem interpretado por Larry David, é uma mala sem alça, em nada lembrando Woody Allen em situações semelhantes. Se Woody interpretasse Boris, não conseguiria ser tão desprezível quanto David. Mas o diretor quer que impliquemos com Boris. Talvez esse seja seu alter ego.

O filme parece realmente antigo e até algumas das referências são datadas, da época em que Allen ainda filmava em Nova York. Mesmo assim, o filme tem momentos muito engraçados. Mesmo sendo um filme menor do diretor é muito melhor que muitos avatares da vida. É o tipo de filme para comentar com os amigos, relembrar as piadas e tentar não esquecê-las no dia seguinte. Na segunda-feira de manhã, antes de ligar o computador para começar o trabalho, você pode dizer aos colegas do escritório: "fui ver o último filme de Woody Allen". E todo mundo vai se interessar para saber dos detalhes e ninguém vai querer perder a chance de assisti-lo. E isso renderá assunto para muitos dias seguidos. Quando Fellini era vivo, era a mesma coisa.

sexta-feira

viver é afinar o instrumento...



Tudo é uma questão de manter a mente quieta, a espinha ereta e o coração tranquilo...

sem perder a ternura...

Um twitter de parede...


A foto é de João Wainer, vista no blog Não Lugar.

C10H8


Foto de Juliana Orihuela

No colégio eu era um craque da tabela periódica dos elementos. Sabia de cor quase todas as fórmulas químicas. C10H8 é a fórmula do naftaleno que, descobri hoje, é um elemento que está no petróleo e entra na composição da naftalina, aquelas bolinhas brancas que ainda são usadas contra traças nos armários de roupa e nas estantes de livros.

Com as portas fechadas há várias semanas, o blog já estava com aquele cheiro de bolor, talvez resultado do "poema" que publiquei e que estava, no mínimo, empoeirado. Uma amiga atenta, mas cheia de dedos (dez), me alertou sobre o bolor. Peço desculpas pelos desatinos da juventude, fecho a tampa do baú (com muitas naftalinas) e tento voltar a normalidade, driblando a falta de tempo e a pouca criatividade de um cérebro que, ultimamente, só pensa na Copa Libertadores da América.

quarta-feira

do fundo do baú

O poema
O poema brota como nascente:
fino,
sujo,
fio de água correndo
para o mar.

O poema queima como chama,
palito aceso,
chama azul,
floresta seca
que arde sem fim.
O poema cresce como tronco,
verde,
liso,
(com espinhos).
Veludo macio
(e arestas cortantes).

Gota, faísca, estrepe
o poema continua inexplicável:
É água de beber,
chama para aquecer,
seiva para alimentar.

O poema brota,
transborda,
se incendeia.

(circa, 1975)

terça-feira

um quartinho de pitu, s'il vous plaît

Do blog  A Eterna Estrangeira, de Tatiana Lazzarotto:

Recife, Praça do Arsenal.

Quase no fim do Carnaval, aquela coisa, todo mundo meio liso e naquela fase da vida que você quer ficar louco bem rápido, pra aproveitar todos os momentos plenamente, curtir toda a folia do Carnaval do jeito que a vida manda, uhul, e tal, decidimos tomar uma cachaça pura. A escolhida para pedir a cana na barraquinha, adivinha? Nem sabia como pedir, mas meus companheiros me orientaram. Dirigi-me ao balcão e falei, quase num sussurro:
- Um quartinho de Pitu, por favor...

O rapaz nem me ouviu, tamanho o furdunço na barraca. Falei um pouco mais alto e um pouco mais, um pouco mais. Aí o cara se vira pra mim, para a pessoa toda arrumadinha, maquiadinha, com essa cara de 15 anos que não muda, e solta, em tom de espanto:

- Osh, e você bebe cana, é?

Ao meu lado, umas três pessoas olhavam pra mim, igualmente aguardando a resposta. Tratei a pergunta como retórica, peguei o copo de plástico e vazei.

segunda-feira

homens que amam as mulheres

Para lembrar o Dia Internacional da Mulher, que começou com a vitória de Kathryn Bigelow, primeira mulher a ganhar o Oscar de direção, com seu filme Guerra ao Terror, uma seleção de grandes momentos de homens que amavam as mulheres: 


O Homem que Amava as Mulheres, de François Truffaut



Jules e Jim, de François Truffaut





A Mulher de Todos, de Rogério Sganzerla, com Helena Ignez como Angela Carne e Osso





Um Homem, uma Mulher, de Claude Lelouch









terça-feira

essa é ilana

Do blog Onde os Peixes Voam, de Ilana Copque

"(...) Sou a música alta em um domingo tedioso e abafado. (...) Sou o isso, sou o aquilo. É só assoprar que eu danço. Danço, encanto-me. Preciso apenas fechar os olhos para me imaginar longe... ou perto. (...) Um único doce nunca me contenta".

asas abertas

Do blog Não lugar, de Lina Faria

"Vivo Lisboa, Porto, Berlim, Bogotá, Paris, sem falar de uns ideogramas aos quais nunca sei de onde vêm. Vivo pessoas com mesmas reflexões e inquietudes, junto a outras que discutem tudo isso mais a arte de seguir os ofícios tipo, “mudar para que tudo continue como está.”.

o homem que colecionava livros

José Mindlin está agora na prateleira mais alta da estante, junto com os clássicos encadernados. Cervantes, Dante, Machado. Edições raras, como ele.

eu ouço gente viva



Em abril estreia o filme Chico Xavier de Daniel Filho, que deverá materializar em pouco tempo uma montanha de dinheiro. O diretor poderia ter escalado, no além, Beethoven, Bach ou Pixinguinha para compor a trilha sonora, mas optou por Egberto Gismonti, que tem a vantagem de estar vivinho da silva e não corre o risco de dar susto em ninguém quando aparece de repente, sem avisar. Ok, o cabelo pode causar um certo impacto, mas o Egberto é um espírito de luz.

Encontrei esse vídeo no Youtube no qual Gismonti rege Olivia Byington, que faz os vocais. Gostei, mas quero ver o resultado no cinema, com aquela paisagem mineira mais serena que a vida na eternidade. Se existe vida após a morte, só espero que tenham escalado um bom músico para cuidar da trilha. Porque no inferno, tenho certeza, só toca Rebolation.

quinta-feira

o dia em que quase conheci Dizzie Gillespie



Em 1956, quando Dizzie Gillespie esteve no Rio, quase me encontrei com o fundador do Bep-bop. Ele esteve na escola de samba da Portela, no bairro de Madureira, perto de Bento Ribeiro, onde minha mãe se restabelecia de um parto difícil na casa de meus avós. Eu ainda mamava no peito e não sabia que um dia lamentaria não tê-lo encontrado, apesar de ele estar tão perto. Mas minha mãe, apesar de saber o caminho até Madureira, não conhecia nada de jazz. O ritmo que embalava seu coração era o dos samba-canções. Como eu era muito pequeno, não pude ir sozinho.

terça-feira

damosel



Tenho algumas cartas de minha mãe, escritas quando ela tinha 18 anos, no começo dos anos 50, quando ainda era solteira. E, ao encontrar esse "reclame", embarquei numa viagem no tempo, quando ela se parecia com essa moça recém-casada. O clima do comercial, a música, o texto, as imagens, os costumes da época parecem marcar um período mais feliz de nossas vidas. Uma felicidade ingênua. Talvez faça falta essa ingenuidade. Estamos falando de um período de pouco mais de 50 anos e parece uma história de Machado de Assis, cabrioles, anáguas, perfume Damosel.O mundo andou muito rápido ou fomos nós que que ainda estamos esperando o sinal abrir? Às vezes sinto saudades de um período que não vivi e passo a achar que bom mesmo eram os anos 40, quando qualquer botequim de Nova York vivia coalhado de músicos de jazz ou quando Oscarito e Grande Otelo representavam um protótipo de brasileiro pobre, mas alegre. Vestíamos uma camisa listrada e saíamos por aí. Saudade de quando as mulheres usavam Damosel e os homens perdiam a cabeça e as levavam ao altar.

segunda-feira

pão e circo

Em 1969,no terceiro ano do ginásio, um colega de classe, filho do dono de uma loja de sapatos (a cada dia ele usava um par diferente), me emprestou o LP "Panis et Circenses", dos Mutantes. Foi um choque para quem estava acostumado a ouvir aquelas baladinhas românticas da Jovem Guarda. Devo ter arranhado o disco de tanto ouvi-lo. Panis et Cirecenses, que dava nome ao álbum, era minha preferida. Nem imaginava que grande parte daquele entusiasmo musical se devia ao maestro Rogério Duprat, autor dos arranjos.

Eu tinha um primo baterista que me apresentou à Bossa Nova e era fanático pela Elis Regina; ouvia minha mãe cantando Angela Maria, Caubi Peixoto e Dalva de Oliveira; meu pai gostava de Chico Alves. Mas os Mutantes eram muito diferentes daquele caldeirão de sons que eu estava habituado a ouvir. Devolvi o disco e só fui comprar meu exemplar há uns cinco anos, agora como CD.

Gosto de todas essas interpretações que encontrei no Youtube: a original dos Mutantes por poder rever Rita Lee, uma lindinha fácil de se apaixonar (hoje uma velhinha muito chata); a de Marisa Monte para me lembrar que um dia eu torci o nariz para ela, incomodado com o marketing que cercou sua descoberta e lançamento (hoje já superei); a do Boca Livre, pela voz maravilhosa desse grupo que também não mais existe.





sábado

"terras que inventei"

Vi terras de minha terra
Por outras terras andei
Mas o que ficou marcado
Nos meus olhos fatigados
Foram terras que inventei




Encontrei esse curta-metragem, dirigido por Fernando Sabino e David Neves, casualmente no Youtube. Sua descrição daria um poema: o poeta na rua, o poeta comprando leite, o poeta cercado de vida. E vemos um pouco de sua vida de homem solteiro, envelhecendo em seu apartamento, esquentando leite numa panela velha e amassada, cercado de livros e criando suas obras.


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Fiquei ausente esses dias todos porque estava participando da finalização do novo portal Cineweb (www.cineweb.com.br), que entrou no ar. Lá eu terei uma sucursal do blog, com o mesmo nome. E gostaria de receber a visita de vocês para conhecer o novo espaço, que ficou bem bonito. Vou procurar escrever dois textos, um aqui e outro lá, para que os leitores dos dois sites se conheçam.

Vejam o novo endereço: