sexta-feira

Tudo começa pelo título

[já escrevi várias histórias a partir de um título: ou a imagem me agradava ou o som das palavras me provocava. O que faltava era escrever a história. Era como um trabalho feito por encomenda, só que quem fazia e entregava o produto era eu próprio. Talvez os anos de trabalho como jornalista tenham me ensinado a ser persistente e não desistir de uma ideia; ou a empurrar o problema com a barriga até encontrar a melhor solução. Mas, em todos os casos, nunca deixei de encarar o desafio e iniciar o trabalho na hora mais adequada. Quase nunca cumpri os prazos estipulados, mas sempre soube perceber as margens de manobra de que dispunha. Era como andar na corda bamba, equilibrando o corpo ora para a direita, ora para a esquerda, em busca de um equilíbrio que, no final da travessia, me manteria vivo e no ponto em que queria chegar.

O título de meu primeiro conto surgiu de uma imagem bem humorada. A primeira providência foi escrevê-lo num caderno no qual eu desenvolveria a história. Não precisei do caderno, pois nunca esqueci o título. Somente anos depois, sentado num vagão do metrô, comecei a escrever a história num bloco de anotações. Prossegui tempos depois em outro bloco e fui ficando com pedaços da história em cadernos diferentes, disputando as folhas limpas com as anotações que fazia para minhas reportagens para o jornal. Às vezes escrevia à noite, em casa, antes de dormir, e retomava o trabalho no dia seguinte. Demorei a encontrar o fecho, porque queria que fosse bem humorado e elegante. Só depois de concluída a primeira versão, levei tudo para o computador e comecei a martelar a pedra. Perdi a conta das versões que fiz, sempre em torno da mesma história e dos mesmos personagens. Quando coloquei o ponto final e decidi encerrar as versões e revisões haviam se passado sete anos. Era um texto curto, enxuto, de duas páginas, em word, times new roman, corpo 12. Estatisticamente, devo ter escrito, em média, dez linhas por ano. Jack London se obrigava a escrever mil palavras por dia, independentemente de seu estado de ânimo ou de embriagues. Mesmo sóbrio, eu era uma tartaruga perto do americano bêbado.]

2 comentários:

  1. Olha! Seu blog é relativamente novo. Se bem que acho que você comentou lá no Bridgestone. Pois é, até mesmo lembrando seu outro texto da máquina, somos mesmo escritores preguiçosos e sem o drama que tínhamos para escrever antes do pc, mas nós leitores que se formaram e/ou utilizam a internet também somos, a seu modo, preguiçosos, ao menos quando nos deparamos com textos na internet. A escrita parece estar se modificando

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  2. Concordo com você Marco. Tenho umm grande interesse em verificar aqui, na prática, como esse texto se transforma. Para mim é um grande laboratório.

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