segunda-feira

[as palavras justas]

[dunga, o treinador da seleção brasileira, não o anão da Branca de Neve, tem uma frase de efeito que serve como chamada aos brios dos jogadores: no futebol só existe o presente, ou seja, o jogo de hoje. Não importam as glórias do passado se não vencermos hoje. E não haverá futuro se também não vencermos hoje. Ele pode estar certo ao pedir resultados imediatos. Até porque é o pescoço dele que está em jogo. Hoje.

Nesse ponto, o jogo de bola se distancia do da vida. Vivemos dos campeonatos passados, principalmente das derrotas, das goleadas, das desclassificações, da morte súbita. Somos o goleiro Barbosa, caído na área e vendo a bola entrar lentamente no canto. Mas precisamos prolongar ainda mais esse sofrimento escrevendo sobre ele, debruçando-nos sobre o computador e procurando a palavra justa que traduza a dor. E ainda o dividimos com o leitor, testemunha de nossa derrota.

Nos blogs, jovens expurgam a dor de relacionamentos desfeitos, de paixões não correspondidas, em poemas rápidos e mal-passados. Alguns leitores os comentam: que lindo. Que lindo o amor frustrado, a alegria interrompida, a felicidade adiada. Não quero que alguém sofra para que eu tire lições da minha própria dor. Jovens cronistas e poetas, não escrevam sobre essa dor momentânea, do presente. Voltem ao passado e busquem uma dor ancestral, antiga, que não é de vocês. Anseiem por essa dor sem dono, mas que é coletiva, que nasceu com o primeiro ser humano. Procurem respostas que, de antemão, vocês sabem que não vão encontrar. Mas mesmo assim não desistam de procurá-las no rosto de cada pessoa que encontrarem em casa, no trabalho, nas ruas. Elas também não saberão e isso aumentará ainda mais sua aflição. Depois escrevam, escrevam em profusão, até se sentirem saciados; depois cortem e cortem mais até que restem apenas poucas palavras. Essas serão as palavras justas que nós precisamos ler.]

12 comentários:

  1. Ótima recomendação. Vou procurar segui-la. Sou o campeão das palavras inuteis!

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  2. Não seria queimar etapas dessa moçada (interrogação)
    O blog, pro adolescente, é o antigo diário. Só que agora a coisa fica pública, ao contrário de mim e outros tantos que, eu sei, rasgaram seus poemas de adolescência.
    É claro que em geral falamos e escrevemos demais. Por isoo que deixei essa coisa pro telegrafico Dalton Trevisan. hehehe
    beijos, Ex!

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  3. Rapaz, baixou o cara da BBC hj aqui.
    :)
    Ai Luis, como dói perder uma gatinha querida, já chorei mto. E o medo do outro sumir... estou regulando as saídas dele. Leia lá o que eu acrescentei.
    Não tenho vontade de sair às ruas, está sempre chovendo estes dias, tenho quase certeza de que foi roubada aqui dentro do condomínio.
    Uma vez jogaram um ovo na parede lateral da minha casa, sabia?
    o que eu faço para provocar isto? não sei.
    sou na minha, vc sabe. A casa é a maior, o meu carro o mais velho, acho, dizem que sou rica- queria ser.
    Para mim há mta inveja, eu vou à piscina, leio lá- quem passa vê, tenho vida boa, dizem- passei dos 50 há algum tempo, me dou ao luxo.
    A sua recomendação aos novos escritores é mt boa, outro dia escrevi p o I.Lessa, que fez um comentário sobre um conto no meu blog do POrtal LN-( se vc enxugar mais encosta no Dalton)- que minha mãe diz que alguém dizia, sabe quem? que o instrumento melhor do escritor é a tesoura- p cortar, cortar. e eu até que corto bastante. Raduan tb diz isto.
    O Ivan L. estava no Nassif, sumiu- tb não sei o que faz as pessoas sumirem- não só os gatos somem snif snif snfi- como a gente faz p sumir sem deixar dor nos outros?
    se eu fosse sozinha...
    bj elianne

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  4. Luiz
    Saber falar e escrever da dor, e dela tirar proveito, só quem ja viveu e sentiu amor.
    E tem coisa melhor?
    Duro é arriscar, pois a dor vem junto com o amor.
    Disso não tem como falar nem escrever.
    beijos

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  5. Luiz,

    há um blog, que talvez ainda não conheça, que aos Domingos, e TODOS Domingos, posta a melhor postagem da semana. Advinha quem esta lá hoje! E sem nenhum favor!

    Forte abraço

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  6. Luiz, esqueci de dizer o nome do blog: BLOG VICIADO.

    http://blogvcd.blogspot.com/

    Bom Domingo!

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  7. Lina,
    Antigamente a gente rasgava os poemas. Talvez não devessemos tê-los rasgado até para conferir agora se eles eram mesmo ruins, ou não. Hoje me arrependo de coisas que perdi para sempre, mesmo textos jornalísticos.

    Mas está feito.

    bjs
    luiz

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  8. Elianne,
    Triste realmente a perda (talvez roubo) de sua gata. Quem faz essa maldade não é capaz (talvez seja, e aí o grau de maldade fica ainda maior)de prever a dor que causará a uma pessoa que ele nem conhece. E também os problemas que criará para o animal que ficará repentinamente afastado das pessoas que ele conhece, gosta e confia.

    Mudando de assunto, também gosto muito do Ivan Lessa. Ele tem um livro chamado Ivan vê o Mundo que é muito engraçado. Gosto do estilo dele e dos textos completamente non sense que ele cria. Pena que não publique com mais regularidade. Ele é um pouco ermitão, como o Dalton Trevisan. Mas é mais divertido e cínico.
    bjs
    luiz

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  9. Miriam,

    Acho que na maior parte das vezes é melhor sentir e viver o amor e não escrever sobre ele. Digo, não escrever apenas para dividir seu segredo com a multidão. Transformar o amor, a paixão e o drama em literatura é que é o x do problema, como diria o saudoso Noel Rosa.
    bjs

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  10. Marco,

    Escrever sobre o que reverbera acaba sendo uma opção também subjetiva nossa. É difícil saber o que reverberará ou não. Acho que esse dilema é eterno e nunca será resolvido a contento. Aí vem outra questão: para quem escrevemos? Quem queremos atingir?
    abração

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  11. Eduardo,

    Obrigado pela colher de chá!!!
    abração
    luiz

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