quarta-feira

[protesto de salto alto]

[o jornalista e escritor Gay Talese recomenda que os repórteres devem praticar o legswork, ou seja, o trabalho de pernas, andar pelas ruas e ver o mundo com os próprios olhos. Uma canção do Milton Nascimento já dizia sabiamente: "todo artista deve ir aonde o povo está". Quando eu trabalhava em redações, os chefes de reportagem literalmente nos expulsavam e nos mandavam procurar notícias nas ruas.

E saíamos. Às vezes dava tempo até de ir ao cinema ou tomar uma cerveja com o fotógrafo enquanto batíamos perna ou rodávamos sem destino pela cidade no carro de reportagem, como policiais em busca de ação. Nem sempre tínhamos sucesso, mas às vezes conseguíamos chegar na hora certa e no local certo de um acontecimento.

Digo tudo isso por causa de um acontecimento que teve grande destaque nos jornais de hoje de São Paulo, mas que, infelizmente, não teve a abordagem que merecia do ponto de vista jornalístico-literário: a grande manifestação contra a proibição de ônibus fretados em diversos bairros da capital. A cidade parou com os piquetes armados por senhores engravatados e mulheres de terninho e salto alto, os grandes prejudicados pela medida. Não quero falar desse assunto sob o ponto de vista político. Me interessa apenas a forma como foi tratado pelos jornais.

Foi a revolta dos executivos de classe média que, no dia-a-dia, fogem de qualquer envolvimento com polêmicas e não querem saber de confusão. Normalmente ficam à espreita, observando, ou lendo através dos jornais. Que histórias saborosas foram perdidas porque alguns jornalistas não tiveram olhos para ver. Se o trabalhador unido jamais será vencido, como dizia o bordão dos sindicatos nos anos 60 e 70, em plena ditadura, os executivos unidos certamente viram que tem muito a ganhar, além de apenas dar quórum às apresentações de power-point em suas empresas.]

6 comentários:

  1. Boa abordagem. É a pura verdade! Grande tema perdido! Acontece que os jornalistas de hoje em dia são diplomados....srsrs

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  2. Luiz,
    Concordo com você de que não há maneira mais eficiente de se fazer jornalismo que ir à rua.
    Estou um pouco em crise com meu blog exatamente por não estar em contato com pessoas.Estou com menos tempo pra isso , o que me faz sentir pouco à vontade pra falar sobre o que soube mas não vi.
    Bem, cada um com sua crise.
    Mas essa sua descrição da manifestação dos executivos me lembrou uma passeata que assisti em Carácas, onde os Esqualidos, como se auto denominavam, gritavam contra o Chaves ( que tb não é flor que se cheire). Engraçado que a maioria eram mulheres que gritavam palavras de ordem, todas com bolsas Lois Vuitton. Cheguei a conclusão de que elas só poderiam ser esqualidas por anorexia.

    Vi ontem na TV e achei curiosa a manifestação da classe média paulista. E parece que eles conseguiram negociar.
    Oportuna sua abordagem.
    bj, lina

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  3. Eduardo,

    Muitos jornalistas nem sabem mais o que é rua e o que é gente. Acham que resolvem tudo com a ajuda do Google.

    Ontem eu fiz um pouco de legswork, mas contarei amanhã.

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  4. BOm tê-la de volta Lina.

    Mas o contato com as pessoas realmente se faz necessário em nossas atividades. É preciso envolvimento pessoal para entender muita coisa que acontece no país.

    Interessante essa passeta classe-média de Caracas. Aos poucos a classe média vai entendendo que sair às ruas não é coisa de comunista, apenas. hehehe

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  5. Engraçado.. você disse o que enfim, estou aprendendo na prática esse semestre, e que alguns professores (poucos), de fato jornalistas, tentam passar..

    O google é realmente mais fácil.. mas nada como o contato.. quanta singularidade pode ser captada...Muito mais interessante de ler e fazer.

    Abrs

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  6. É isso mesmo Ilana. Nada como os olhos nos olhos com os entrevistados.
    bjs

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