segunda-feira

[as pedras de saramago]

O Nobel de Literatura José Saramago esteve domingo (18/10) em Penafiel, em Portugal, durante o festival literário Escritaria 2009, onde foi distribuído o prêmio que leva seu nome e lançado seu novo livro, "Caim", que sai no Brasil pela Cia das Letras.

Saramago falou sobre seu livro para uma platéia de 800 pessoas. escrevê-lo, definiu, foi um "exercício de liberdade".

"Não é que este livro seja mal comportado, mas é, sem dúvida, uma insurreição, um apelo a que todos se animem a procurar ver o que está do outro lado das coisas", disse, segundo notícia da agência de notícias Lusa.

O livro conta, em tom irônico, a história bíblica de Caim, o filho primogênito de Adão e Eva que matou Abel, seu irmão mais novo, num acesso de ciúmes, após verificar que Deus mostrara preferência por este. "Nada disto existiu, está claro, são mitos inventados pelos homens, tal como Deus é uma criação dos homens. Eu limito-me a levantar as pedras e a mostrar esta realidade escondida atrás delas", afirmou o escritor.

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terça-feira

a volta

Saio bem cedo para o trabalho, na terça-feira pós-feriado da Cidinha, e cruzo no metrô com quem aproveitou os três dias de ócio até o último minuto. Ao contrário de feriados anteriores, ninguém volta com o rosto rosado. Sem sol (apenas alguns raios fugazes conseguiram furar a camada de ozônio e a placa compacta de nuvens escuras)os paulistanos regressaram tão pálidos como eram quando partiram. Sem o sol, que é o que se persegue quando se busca refúgio fora da cidade, o máximo que se encontra são casas e apartamentos abarrotados de gente, uma espécie de embaixada de Honduras, repleta de bigodudos que não nos deixam dormir em paz. E tome jogo de baralho, e tome domingão-do-faustão e tome datena. E tome futebol, jogo do Palmeiras, da Argentina, do Corinthians, com aqueles comentaristas sorridentes. Longe das casas e dos apartamentos sitiados, só mesmo passeios no calçadão da praia e na praça da cidadezinha, onde os bancos estão molhados e a grama crescida. As horas passam lentas e se contam os minutos para o regresso.

sexta-feira

suco de gadu



Ouvi pela primeira vez essa moça com jeitinho sapeca, sotaque forte carioca, na Rádio Eldorado. Ela cantava uma música de Chico Buarque, "A História de Lilly Brown", cuja letra nunca tinha prestado muita atenção, mas que decidi procurar. O mais difícil foi guardar o nome dela. Acabei reencontrando-a na internet quase que por acaso. A partir daí, achei seu disco e não canso de tocar.

Nessa entrevista saborosa, ela conta que sua primeira música foi composta quando ela tinha 10 anos ("Shimbalaiê", que está aí em baixo). Ao ouvi-la ao violão, com as duas pernas magrelas cruzadas sobre o banco, percebe-se muitas referências: Marisa Monte, Djavan, Chico Buarque, Milton Nascimento. É como se todos fossem batidos no liquidificador e dessa mistura saísse um suco de Maria Gadu - doce mas não melado, refrescante, saboroso, revigorante. Para mim é a melhor revelação da MPB dos últimos anos, sem marketing, sem jabaculê. E no youtube, está ao alcance de todos.




quinta-feira

Herta Müller vence o Nobel de Literatura


o site da revista Época acaba de divulgar a escolha da alemão Herta Müller para o prêmio Nobel de Literatura:

[A Academia Sueca premiou nesta quinta-feira (8) a alemã Herta Muller com o Nobel de Literatura por conta de seus inúmeros trabalhos que retratam a vida sob a ditadura socialista de Nicolau Ceausescu na Romênia. Segundo o comunicado oficial da academia, Herta, “com a concentração da poesia e a franqueza da prosa, retrata a paisagem dos despossuídos”.

Herta Muller nasceu em 17 de agosto de 1953 em Nitzkydorf, uma pequena cidade na Romênia de maioria alemã, comunidade da qual seus pais faziam parte. De acordo com a biografia de Herta no site oficial do Prêmio Nobel, seu pai foi, durante a Segunda Guerra Mundial, membro das Waffen SS, o braço armado do Partido Nazista, responsável por algumas das maiores atrocidades da guerra. Com a derrota da Alemanha, muitos romenos de ascendência alemã foram deportados para campos de trabalhos forçados na União Soviética, como a mãe de Herta, que passou cinco anos no que é hoje em dia a Ucrânia.

Em seu livro mais recente, Atemschaukel, de 2009, Herta retrata justamente o exílio desses romenos na URSS. A experiência tratada em suas obras anteriores – com a mesma temática da vida sob uma ditadura socialista – é mais recente.

A única obra de Herta Muller em português foi publicada pela Editora Globo (a mesma que publica ÉPOCA) em 2004. É o livro O Compromisso, tradução de Heute wär ich mir lieber nicht begegnet (1997), feita pela escritora Lya Luft.]

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segunda-feira

Conto inédito de Roberto Bolaño na Internet


Bolaño: a bela desordem na mesa de trabalho.

A bela revista digital "60watts" publica um conto inédito do escritor chileno Roberto Bolaño, morto em 2003 aos 50 anos. "El Contorno del Ojo" foi enviado nos anos 1980 para um concurso literário na Espanha, mas permanecia inédito até agora. O site do jornal português "Jornal de Notícias" revela que o texto é a história de um oficial do exército chinês e poeta em convalescença numa aldeia, que regista as suas inquietações num diário. Bolaño obteve o terceiro lugar do I Prémio Alfambra de Cuentos, organizado pela Câmara Municipal de Valência em 1983.

Diz o jornal que foi nesse concurso que o chileno conheceu o escritor argentino Antonio di Benedetto (1922-1986), que ficou em segundo lugar e com quem iniciou uma relação de amizade por correspondência. Partindo da história real do jovem escritor que merece uma menção honrosa num prémio literário e descobre que entre os vencedores está um autor que admira, Bolaño escreveu depois outro conto, "Sensini", que faz parte do livro "Llamadas Telefónicas".

Em "Sensini", o personagem homônimo que representa Di Benedetto considera de "primeira ordem" o conto do seu novo amigo e insta-o a não abandonar os concursos literários. O jornal português comenta: "Hoje, não há dúvidas de que Bolaño persistiu, mas quando Di Benedetto morreu, em 1986, o chileno era ainda um desconhecido, sem imaginar a universalidade que recentemente a sua obra alcançou, ou que seria considerado, ainda que após a morte, o escritor que renovou a literatura latino-americana".

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domingo

[mercedes]



A nova geração talvez não conheça a argentina Mercedes Sosa, cuja morte foi anunciada hoje (4/10). Mas para minha geração ela foi uma voz forte num período difícil que enfrentavámos não apenas no Brasil como em quase toda a América Latina. Eram os anos de chumbo que nos mergulharam num pesadelo tenebroso.

Descobri Mercedes Sosa e a chilena Violeta Parra em 1979, junto com o também chileno Victor Jara, assassinado pela ditadura de Pinochet. Nos anos 80, Milton Nascimento gravou algumas músicas de Violeta Parra e fez dueto com Mercedes em "Volver a los 17", uma letra belissima de Violeta sobre o envelhecimento, comparando-o aos seus reflexos inexoráveis na natureza, como o musgo que cobre lentamente a pedra.

Nesse víeo do Youtube, Mercedes canta uma música que também fala em envelhecimento, com a bela letra do cubano Pablo Milanes, que também fez parcerias com Chico Buarque, depois que o ar daqueles anos de chumbo foram se tornando mais respiráveis. No Brasil essa música foi gravada por Simone.

sábado

[de volta para o futuro]

Foto de Ricardo Stucker

[Do blog do Luiz Nassif ]

"De volta da caminhada, encontro na calçada o grande Evaldo Dantas, dos grandes jornalistas da história, um pouco avançado em anos. Ele me vê, abre um sorriso e diz: “Mas o que está acontecendo? O Brasil está explodindo no mundo”.

Respondo que não acreditava que fosse viver para testemunhar o que virá por aí.

Ele sorri, com a sabedoria dos muito velhos: “Eu não vou viver para assistir. Mas sei que acontecerá”.


Trabalhei com Evaldo Dantas no começo de minha carreira e tenho a sorte de encontrá-lo com alguma frequência na casa de amigos comuns. Amigo de dom Paulo Evaristo Arns, é autor de grandes feitos, como a histórica entrevista com Klaus Barbie, que encontrou escondido na Bolívia, nos anos 60 e rendeu um livro.
Se ele acredita, eu não tenho como duvidar.