sábado

[o que restou]

Inês e Abraham Metri, durante as filmagens de Liberdade de Pé

[sempre perdemos coisas pelo caminho. Os amantes perdem as meias, botões da camisa abertas com impaciência, peças de roupas que são rasgadas pois não se consegue tirá-las com a rapidez desejada, a rapidez da paixão, que é maior que a velocidade da luz. Às vezes deixamos rastros, como os pedacinhos de pão lançados por Joãozinho e Maria, que acabaram comidos pelos passarinhos. E com isso nos perdemos. Descobri que o Eduardo, sinhozinho do Varal de Ideias, dono de dezenas de cabeças de blogs (que estão engordando a olhos vistos), perdeu um filme, cuja personagem é uma colega jornalista que também já perdemos, Inês Knaut, com quem trabalhei na Folha de S. Paulo, no século XX. Convivi pouco com ela e não sabia de seu passado de modelo e atriz. Lembro que trabalhava na editoria de Geral, que hoje é Cotidiano e fazia aquelas reportagens que os jovens jornalistas sempre são incumbidos de fazer que sempre são chatas. Acho que ela escrevia sobre saúde. Ironia, ela que conhecia os melhores médicos, que os entrevistava a qualquer hora, perder a batalha para o câncer.


Pois o Eduardo perdeu um curta metragem que rodou com ela chamado Liberdade de Pé, do qual restam algumas fotos feitas pelo diretor de fotografia Abraham Metri. Quantos filmes, quantas músicas, quantos livros hoje guardamos na memória pois já não existem. É triste perdermos pedaços de nossa vida, de nosso corpo, pelo caminho. Mas que bom que ainda podemos lembrar e recriar o que foi perdido com uma obra nova, original. A palavra preserva a imagem perdida, o som perdido, o cheiro perdido. Preserva até o amor perdido que, quando acaba, vira poema. ]

13 comentários:

  1. Fora o seu bom texto, foi bom saber essa sua história com nossa saudosa Inês Knaut.A vida é feita de perdas e ganhos. Perdi o filme, mas achei virtualmente a Joana e Maria, filhas da Inês, apresentadas pelo Metri, que fotografou o filme. Essas imagens foram feitas talvez pelo Olivier Perroy, não me lembro. Maura da Silva fazia a continuidade e assistência de direção. Vamos ter no fim deste mês um encontro com as meninas, e com o Metri que não vejo a quase meio século. Ele com este filme iniciou uma exitosa carreira de fotógrafo de cinema!
    Obrigado por juntar mais um pouco da história da Inês.

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  2. O mundo é muito pequeno mesmo... Eduardo,
    você está em SP ou em SC?

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  3. bonito isso de fragmentos irem se juntando com o tempo. nos faz sentir menos perenes.

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  4. errata, ato falho, nos faz sentir mais perene,
    beijo

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  5. ...Afinal, somos retalhos...
    Belo texto

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  6. Oi Luiz, sou Joana, uma das filhas da Inês Knaut. Lindo seu texto. Mesmo tendo convivido pouco com ela, suas palavras traduzem muito sua essência. Por algum tempo ela renegou seu passado como modelo e atriz. Era uma mulher da geração que brigou contra o machismo e a opção pelo jornalismo foi uma de suas armas para essa entre outras batalhas. Escrevendo sobre saúde, travou guerra contra a corrupção hospitalar e venceu brilhantemente alguns episódios de denúncia. Mas lutas a parte, ela também era conhecida por sua irreverência, bom humor e vanguardismo. Ela ia assinar embaixo da sua última frase - "a palavra preserva até o amor perdido que, quando acaba, vira poema". Um beijo da filha da Inês.

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  7. Joana,

    lindo seu comentário.
    Respondendo ao Luiz, estou em santa Catarina, mais precisamente na Piacaba (nome da minha casa), Ibiraquera( bairro e praia), Imbituba( Município)!Fica a 100km ao sul de Florianópolis, no continente!

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  8. Luiz,

    entre as forma de tornar um blog conhecido é participando de blogagens coletivas! Há blogagens e blogagens, e a nossa Tertúlia Virtual, não é só porque é nossa, mas se diferencia das demais pelo nível dos temas tratados o que acaba selecionando seus participantes (134 na ultima). Ao se inscrever e visitar os inscritos se conhece muito blog bom. Ao ser visitado por centenas de participantes, se tem a grande oportunidade de fisgar seguidores interessantes! Acompanhe esta que inicia amanhã! O tema este mês é: Que lugar te faz lembrar sua casa?

    Boa semana!

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  9. Descobri o blog pela tertúlia ...é bom poder revisitar a história através do seu texto

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  10. Lina e Ilana (que não são irmãs gêmeas, apesar do nome lembrar um parentesco sanguíneo),

    Gosto desses retalhos, desses pedaços. Gosto de reconstruir, como num jogo de lego ou um quebra-cabeça. Com o passar do tempo, a montagem se torna mais difícil, mas mais interessante.

    beijos

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  11. Joana,
    Fico feliz que você tenha lido esse texto que fala sobre sua mãe, mesmo que fale tão pouco. Esse mundo é realmente muito pequeno. Pena que ela tenha partido tão cedo.
    Beijos,

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  12. Eduardo,
    Já me inscrevi na tertúlia e já postei um texto. Obrigado pela dica.

    abração

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  13. Obrigado Bento,
    Ainda vou navegar no seu blog para conhecê-lo melhor.
    abração

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