[me sinto em casa na casa de meus amigos. Posso ir sozinho à cozinha, abrir a geladeira e pegar uma cerveja, receber a atenção dos cães e gatos da família, que já conhecem o meu cheiro, folhear os livros nas estantes. De alguns desses amigos recebi pedaços de suas casas: uma planta do jardim, um enfeite, uma garrafa de bebida, pimentas secas mexicanas. Uma amiga mudou-se para uma casa menor e me presenteou com quadros, livros e móveis que não caberiam no apartamento menor. Seu marido me doou algumas ferramentas que ele usava para cuidar do jardim e que agora não teriam serventia em seu apartamento. Sua filha levou o cachorro.
Para um amigo que mora em apartamento, retirei de meu quintal uma muda de bananeira para ele colocar em sua sala como planta ornamental. Ela não dará frutos, mas se tornará uma personagem exótica que chamará a atenção dos visitantes, pela exuberância e tamanho de suas folhas largas.
Da casa de meus pais levei mudas de flores e de árvores frutíferas, num retorno à minha infância. Hoje elas atraem pássaros, borboletas e outros insetos. Quando era criança, guardava as joaninhas em caixas de fósforo e buscava vaga-lumes que eram comuns nos terrenos baldios repletos de vegetação. Pensei em fazer coleções de borboletas, mas desisti porque teria de matá-las e espetá-las numa cartolina. Construía belos estilengues, com forquilhas resistentes de galhos de goiabeira e tiras de borracha de câmera de bicicleta, mas nunca matei um passarinho. Sempre mirava as pelotas de mamona a dezenas de metros do bicho. Talvez tenha faltado um pouco de crueldade na minha infância, que eu compensava com a habilidade na batalha de pipas e na construção de carrinhos de rolimã.
Na época minha casa era também a casa de um amigo, filho de imigrantes libaneses, que morava na mesma rua, onde eu me banqueteava com kibes, esfihas e doces árabes, servidos numa mesa farta. A irmã dele, exuberante aos 15 ou 16 anos (eu tinha apenas 13), colocou na vitrola e eu ouvi pela primeira vez Help, dos Beatles, e Lady Jane, dos Rolling Stones. Os hormônios começavam a ferver, mas eu ainda lia gibi do Super-Homem e colecionava figurinhas.]
Esse é uma postagem da blogagem coletiva da Tertúlia Virtual, cujo tema é "Que lugar te faz sentir em casa"
Muito bom poder ler seu post sobre tua casa pessoal.
ResponderExcluirBjs,
Chris
Luiz,
ResponderExcluirmuito boa sua participação. A Tertulia tem essa característica, se conhece gente nova e podemos nos mostrar mais um pouco para as visitas! Sempre se ganha com isso!
Obrigado por ter aceito o convite e divirta-se com a longa lista de inscritos!
Luiz, maravilhoso o seu texto, a sua espontanedade em dividir conosco seus momentos de intimidade com seus amigos. Adoraria ter uma bananeira enorme aqui na minha sala. Mas elas para estes lados custam uma nota preta.
ResponderExcluirAbracos
Luiz Vita, pela descrição que você fez, a casa de seus amigos é também a "sua casa".
ResponderExcluirUm abraço.
Christi e Daniel,
ResponderExcluirObrigado pelos comentários. A palavra casa para mim tem uma ligação muito forte, me remete à infância. Já andei postando sobre isso por aqui.
abração
Georgia,
ResponderExcluirNão seja por isso. Reservo um pé de banana pra você... rsrsr
Que legal que você gostou do texto. Eu gosto de saber a opinião dos leitores. Me ajuda a controlar minha mão, que é muito teimosa...
abraço
é isso mesmo Adelino. Existe uma grande afinidade que me permite me sentir na minha próprsia casa quando estou na casa dos amigos. Gosto dessa expressão mexicana: mi casa es su casa..
ResponderExcluirabraço
Luiz Vita, tb gostei mto de seu texto,costurou bem as lembranças com o atual- ficou bonito.
ResponderExcluirNão sabia seu nome todo... agora sei :) bjs Laura-Elianne
PS: Hj tem lançamento no Rio às 19 hs, agorinha, tomara que seja bem recebido lá o livro- em Sampa foi.
Lindo... amei seu texto... tbm tinha uma amiga filha de libaneses... e qdo ia na casa da tia dela mesentia entrando por um palacio, com aqueles tecidos todos nas paredes e um pé direito altíssimo... um sonho...
ResponderExcluirLuiz Vita,
ResponderExcluiressa relação pessoa espaço é tb pura química. Como as pessoas, os lugares, seus cheiros,sua forma, batem, ou não, com cada um. É muito particular.
Teu imaginario é rico. Ve-se pelo teu olho arguto que transforma imagem em textos deliciosos, de original paladar.
Elianne,
ResponderExcluirMe conte depois as notícias sobre o lançamento do livro no Rio.
bjs
Nana,
ResponderExcluirAs melhores lembranças são sempre as gastronômicas. Olfato e paladar sempre trazem boas lembranças...
Obrigado por seu comentário.
bjs
Obrigado Lina. Você é muito gentil.
ResponderExcluirbjs
Agradeço a todas as pessoas que postaram no dia da Tertúlia Virtual. Os amigos que já conheciam esse espaço e os novos que o descobriram no dia da blogagem conhecida.
ResponderExcluirquis dizer: blogagem coletiva.
ResponderExcluirLuiz,
ResponderExcluirCerto dia, respondendo a uma pergunta da minha filha sobre vender a nossa casa, eu falei: “Filha, a minha casa é um país dentro do meu país. É a minha pátria de intimidades. Ela tem cor, cheiro, som, passos e lembranças. Ela tem história! ... E se me tiram o chão, eu me torno estrangeira de mim mesma.”
Lendo “mi casa es su casa” lembrei dessa conversa. A sua pátria de intimidades tem várias moradas, mas todas elas carregam afetos e lembranças inolvidáveis.
Foi muito bom ler o seu texto, resgatei as minhas memórias. Árvores, borboletas e joaninhas... Saudades! Obrigada.
Gostei do que você escreveu Juliêta. Eu também sinto isso pela casa de meus pais e pela minha própria casa. Antes de tudo, a casa acaba sendo nosso primeiro refúgio. É Onde encontramos os cantinhos para nos protegermos e até nos escondermos. Por isso a casa sempre é sinônimo de proteção. E não gostamos de nos desfazer dela, porque ela é mais que uma simples construção ou uma possível fonte de renda. É um pedaço de nós.
ResponderExcluirCheguei tarde, mas aqui estou. Em sua "casa".
ResponderExcluirA casa dos amigos, nossa também. A transbordar para a nossa quando eles se mudam.
Gostei das "importações" das plantas de casa dos pais: nada melhor que trabalhar o riso interior.
É bonito esse seu regresso ao menino- adolescente... libanesas sensuais, figurinhas e super-homem. Uma descrição perfeita.
Parabéns pelo post que tão bem mistura tantas emoções.
PS: Acho não ser preciso dizer: o Arco-Íris é também a sua "casa". Aceitam-se sorrisos como adornos e outros acessórios.
Beijinhos. Com "afecto português" , claro, rs
De Lisboa. A morrer de calor.
Lília
Oi Lilia,
ResponderExcluirBom vinda de volta. O conceito de nossa casa agora é mais amplo ainda com a blogosfera. Ficamos entrando e saindo dos blogs dos amigos, como se morássemos todos na mesma rua e fossemos tomar cafezinho na casa uns dos outros. Esse comportamento é muito interessante e gostoso.
Beijos do inverno de SP (que inveja do calor europeu...)
luiz