domingo

Vergonha de ser escritor 2

A jornalista e pesquisadora Cristine Costa publicou em 2005 Pena de Aluguel - Escritores Jornalistas no Brasil, 1904-2004 (Companhia das Letras), no qual apresentava um questionário a 32 jornalistas escritores cujo mote principal era: trabalhar na imprensa ajuda ou atrapalha alguém que pretende ser escritor? Entre os ouvidos es~tavam Arnaldo Bloch, Bernardo de Carvalho, Cadão Volpato, José Castelo, Rosa Amanda Strausz, Heloisa Seixas, Luiz Ruffato, Marçal Aquino, Marcelo Coelho, entre outros talentosos jornalistas escritores. Boa leitura, texto gostoso de ler e muito elucidativo para conhecermos a carreira de autores contemporâneos importantes na literatura e no jornalismo brasileiros.

Fernando Molica respondeu: "No Brasil, a prática consagrou que escritor é quem escreve livro, mesmo que o livro seja uma grande reportagem. Sempre aceitei esta divisão, talvez porque eu tenha entrado no jornalismo em um momento em que a profissionalização da categoria tenha se radicalizado. Não havia mais espaço para uma etapa mais romântica, em que jornalismo e literatura podiam, muitas vezes, se confundir".

Quando converso com jovens jornalistas ou estudantes que ainda não terminaram o curso mas já trabalham em redações (sendo explorados, essa é a verdade, sem nenhum apoio de seus editores, largados à própria sorte), enfatizo sempre a importância do texto e da leitura. Tenho cada vez mais recomendado livros dos jornalistas escritores, como Gay Talese (Fama e Anonimato), Truman Capote (A Sangue Frio, que virou filme), Tom Wolfe (Décadas Púrpuras). Quero despertar neles o interesse pelo texto e o texto como território inexpugnável de sua profissão. O texto bem escrito que pode driblar as amarras do jornalismo e se impor na edição final do jornal. Desde que tenha alma, mas que também tenha musculatura. O texto franzino, raquítico não vai vencer.

Mas essa é outra discussão. O que me interessa agora é pensar como jornalismo e literatura podem conviver, sem serem tratados como atividades conflitantes ou menores (no caso do jornalismo).

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