quinta-feira

[você tem de gostar do meu presente]

Interpretação tipográfica de um conto de Italo Calvino feita pelo designer David Damico
[presentear com livros é uma tarefa agradável pois implica em ir a uma livraria e procurar a obra certa para a pessoa certa, como uma roupa que possui a modelagem certa para cada corpo. Mas a padronização dos corpos e a dos cérebros são completamente diferentes. O livro que é bom para um, não é bom para outro. Aquele livro que me abriu tantas portas, pode ser uma tábua áspera para alguém que não trilhou as mesmas estradas que meus pés. Mas devo ser sincero, pois na maioria das vezes em que escolho a obra, penso mais em mim que no outro. Penso na boa ação que faço ao prescrever o remédio para alguém que julgo dele necessitar. Até porque esse medicamento curou o meu mal. Penso também que se alguém tem de mudar, esse alguém é o presenteado e não o presente. O livro é o correto, mas ainda vai demorar algum tempo para o outro perceber isso. Até lá ele vai vagar por aí e vai sofrer até o momento certo para encontrar o volume, alinhado na estante ou soterrado por uma pilha de outros livros. Talvez a capa ou o título chamem a atenção. Ou a cor da lombada. Mas o certo é que esse dia vai chegar.
Aos jovens jornalistas que ainda estão na faculdade ou já se formaram eu dou Fama e Anonimato, de Gay Talese. Sei que alguns leem e percebem existência de um mundo novo, longe das páginas das revistas de celebridades. Eles percebem que há vida por trás de cada palavra usada para contar uma história. Sei também que outros não leem ou inventam tantas desculpas para não ler que me preocupo com seu destino. Antevejo as dificuldades que encontrarão na profissão, mas me tranquiliza saber que eles ainda têm o remédio ao alcance da mão.

Para os que não são jornalistas, mas estão descobrindo o prazer de ler, eu peço para a vendedora embrulhar Italo Calvino para presente. Os Amores Difíceis, o Barão nas Árvores, Marcovaldo e as Estações, por exemplo. Mais do que mostrar que cada palavra tem sua vida e sua história que merece ser contada, Calvino consegue enfileirá-las de uma forma muito original, inusitada, muitas vezes surreal. Já li praticamente todos os seus livros e, quando estiver mais velho, vou voltar a eles como se volta aos clássicos, ou, de uma forma que Calvino gostaria de saber, como se volta às histórias em quadrinho da infância. Os desenhos são sempre os mesmos, mas parecem diferentes a cada leitura.

O Castelo dos Destinos Cruzados, que li num local tranquilo, num período de descanso do trabalho, foi o último que devorei. A história é surreal, num clima de fábula antiga, marca de boa parte de sua obra.]

Um comentário:

  1. Obrigada pela indicação. Engraçado que a Anny escreveu sobre o prazer da leitura. NO meu blog tem link para ela e não sei como coloca-lo nesse espaço. Bjkª. Elza

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