terça-feira

[um mundo sem papel]


[essa foto do leitor eletrônico Kindle DX chamou minha atenção belo design e pelo tamanho semelhante a uma revista. Mas o que mais me impressionou mesmo foi ver uma imagem de James Joyce na tela do aparelho, projetado para substituir o livro-papel, o jornal-papel, a revista-papel, o papel enfim. Sua memória, de 3,3 Gb pode armazenar o conteúdo de 3.500 livros. Você sai de casa, pega o ônibus, o metrô e leva na pasta ou na bolsa uma verdadeira biblioteca, sem pó, sem mofo, sem traças.

O New York Times, que anda numa crise danada, já se antecipou e firmou um acordo de colaboração com a Amazon, detentora da patente do Kindle. Arthur Sulzberger, presidente da empresa que edita o jornal, discursou falando do começo de um novo tempo, da morte do papel jornal, da biblioteca inteira que poderá ser acessada na tela através de um só suporte. Há alguns anos eu duvidava de uma previsão como essa, quando começaram a ser testados os primeiros leitores eletrônicos. Hoje já não tenho tanta certeza. Quando vou à cafeteria e vejo as pessoas navegando na internet com seus laptops, cada dia menores e mais leves, começo a acreditar que o papel está realmente com os dias contados. Não digo o mesmo do livro, mas acredito que os jornais e revistas tenderão a desaparecer dentro de poucos anos para sobreviver no ciberespaço, repaginados e redefinidos totalmente. Tarefa difícil para quem hoje dirige os jornais e não consegue nem mesmo renovar e melhorar o que já está aí. Se o livro tem seu fetiche como objeto (e até fetiche intelectual), o mesmo não consigo ver nos jornais e nas revistas, que estão cada dia mais obsoletos enquanto objetos. É triste para um jornalista que só soube escrever durante toda a vida, ver o desaparecimento das páginas onde despejava o conteúdo de um dia inteiro de trabalho. Quando comecei na profissão, em um pequeno jornal de interior, antes de ir embora passava pela gráfica, perto da meia-noite, com o jornal do dia seguinte embaixo do braço. Já atuando em jornais em São Paulo, observava as rotativas rodando sem parar e os pacotes de jornais saindo dobrados na outra extremidade. Para quem já trabalhou em jornal, sabe do encantamento que papel, tinta, rotativas e caminhões apressados exercem sobre os jornalistas. Um pedaço de você sai dali para chegar no dia seguinte às mãos de alguém que você não conhece, mas que se tornará íntimo seu. Uma vez, no metrô, vi uma pessoa lendo uma reportagem minha numa revista. Qual a sensação que você sente? Responsabilidade e muita humildade.


Hoje os novos jornalistas já começaram a trabalhar na era digital e veem imediatamente o resultado de seu trabalho nos sites dos veículos, nos blogs que escrevem. O resultado é imediato. É bom para quem lê também. A notícia é mais atual, não suja as mãos. Não abordo aqui se o conteúdo é melhor ou pior. Essa é outra discussão que precisa ser enfrentada por quem lê os jornais e por quem os escreve. No Brasil, como sempre, essa discussão está muito atrasada, porque o interesses imediato das empresas é apenas econômico: como fazer um jornal mais barato, mais lucrativo e, de preferência, sem jornalistas. Os jornalistas atrapalham muito os planos dos publishers (como eles gostam de ser chamados), para quem salsichas e newspapers são a mesma coisa. Quem está começando hoje na profissão precisa se preocupar com isso, com sua aparente inutilidade.]

3 comentários:

  1. os livros também estão ameaçados pois o fetichismo do papel do livro só existe para quem o conheceu e, provavelmente, as gerações futuras não experimentarão com tanta frequencia como nós o fizemos

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  2. Será Marcos? quando surgiu a internet muito se disse sobre o fim do papel. Mas no entanto o que observamos é justamente o contrário, o aumento de papéis impressos. Creio que quando se trata do futuro, nem todas as previssões se cumprem.
    Ósculos

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  3. Aqui em casa é o reino do papel. Estão até amarelados, cor de passado....

    Tenho dúvidas se o livro-papel acaba, mas acho que o jornal-papel vai acabar.... O jornal já chega velho na banca.

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