Equipamento de segurança: belo desenho de Sapoleka
O que nos conforta diante de uma catástrofe é saber que estamos preparados para enfrentá-la. Inveja, mau-olhado, quebranti? Galho de arruda atrás da orelha. Noé foi o primeiro a sentir essa sensação de alívio quando, obedecendo ordens superiores, construiu sua arca. Só em alto-mar e com uma tripulação inusitada é que respirou aliviado, mesmo estando com as mãos calejadas.
Desde criança defendo que temos de ter por perto equipamentos de segurança indispensáveis para nossa existência: canivete (de preferência suíço, que vem com uma série de pequenas ferramentas úteis em viagens, como abridor de garrafa, tesourinha etc), estilingue (claro que um adulto não precisa mais, mas para uma criança é o equivalente a entrar num saloon do velho oeste com o coldre vazio), chave de fenda, alicate, cortador de unha, um cartela de aspirinas, caixa de fósforo e uma vela.
E foi justamente uma caixa de fósforos e uma vela que salvaram minha vida ontem, quando as luzes se apagaram. Os mais modernos podem substituir os fósforos por um isqueiro a gás, mas os palitos de fósforos são muito mais baratos e ainda podem adquirir outras funções, como furar a cabeça de um charuto na falta de um cortador adequado.
Ontem à noite, acendemos velas de vários formatos e tamanhos, presentes de ocasiões festivas, e deixamos a casa com uma aparência de castelo de romance inglês: meia luz que realçava a profundidade do ambiente, sombras que adquiriam formas curiosas ou até fantasmagóricas. Os gatos pareciam se divertir, desaparecendo do campo visual, mas se arriscando a serem pisoteados.
Hoje no trabalho, um colega lamentou: "tudo na minha casa é digital. Preciso comprar pelo menos um radinho de pilha para saber o que está acontecendo". Eu tenho radinho de pilha e pilhas novas em quantidade suficiente para esperar a chegada do Armagedon. E nosso pequeno rádio, comprado numa viagem ao exterior, muitos anos atrás, ainda tem ondas curtas. Dá para sintonizar a BBC e saber se Londres está sendo bombardeada. Ou ouvir as crônicas do Ivan Lessa.
Antes de dormir ainda li duas crônicas do livro do Nassif, com um castiçal ao lado da cama. Mas, ao contrário de Clarice Lispector, que não apagava suas tochas antes de dormir, assoprei a vela e só acordei hoje, com o despertador de pilha, vendo a luz do sol substituir as turbinas de Itaipu que, naquela altura, já estavam funcionando, mas sem precisão.
Eu e Nassif temos uma coisa em comum que é escrever sobre Poços de Caldas. Li vários livros sobre a história da cidade, inclusive um de crônicas, do próprio, publicadas na Folha.
ResponderExcluirExplico. É que estou a escrever o livro de memórias/biografia/livro de causos/a gente ainda não sabe, de uma pessoa que é de lá. Já estive em Poços e Botelhos por conta desse trabalho.
Minha especialidade é a família Junqueira, que recebeu a região como sesmaria e mais tarde doou o terreno para a construção da cidade. Meu cliente é um Junqueira, por parte de mãe.
Sobre o apagão, eu não fui tão precavida quanto você, nem tentei encontrar a vela, fiquei sozinha em casa, no escuro, que não era tão intenso. graças às luzes de geradores dos prédios ao lado do meu.
Fiquei cantando musicas do Noel para o meu cachorro, que adora me ouvir cantar e como a luz não voltava, fui dormir na maior boa. Apagão é lagal, fiquei quatro horas sem teclar nem mudar de canal. Valeu, Itaberá.
Um apagão sempre serve para alguma coisa... Como descobrir que a gente é capaz de viver sem tantos confortos digitais, longe do computador e da televisão, só com velas.
ResponderExcluirVerdade que não há sossego na situação, já que se fica pensando afinal, que foi que aconteceu.
Mas que, de longe, a cidade fica até meio bonita lá isso fica, assim, com luzes esparsas, velas como as que encontramos, de todos os tipos e tamanhos, nos armários perdidos.
O trânsito, o metrô, é verdade, ficaram um caos sem a luz. Teve gente que não conseguia voltar para casa, como fizeram? Dormiram na rua, no bar, na casa de amigos?
Quanta coisa num apagão..
Que legal esse projeto biográfico de um personagem de Poços de Caldas, Ester. Torço para que dê tudo certo e que não falte luz no dia em que vc estiver escrevendo. Acho que o Nassif gostaria de saber sobre essa história. Conta pra ele.
ResponderExcluirbeijos
Neusa,
ResponderExcluirMenos é sempre mais. A luz esconde muitas coisas que, muitas vezes, só se revelam nas sombras.
beijos
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO projeto é legal, sim, mas tenho apanhado bastante. Achava que chegaria lá recolheria o material, escreveria e só. Ledo Ivo engano, diria Nelson Rodrigues, é uma relação super complexa, mexe com os sentimentos da gente. Há um super envolvimento pessoal e afetivo. Tempos atrás encanei que se o velho morresse durante o processo (é umn ex-chefe e grande amigo) eu sofreria como um cão, não tinha aventado essa possibilidade quando fiz a proposta, inocente toda a vida.
ResponderExcluirQuanto ao Nassif, meu cliente e ele se conhecem bem, mas eu não tenho autorização para falar desse trabalho com ele.
Luiz,
ResponderExcluiraqui em Santa Catarina, que tem apagão, relâmpagos, toda hora, o ano inteiro, desta vez ficou fora! Nem isso pudemos compartilhar com grande parte do país!
E por essa razão, tenho vela e uma caixa de fósforo em TODOS os cômodos da casa! Banheiro, quarto, sala e cozinha! É muito romântico, mas muito chato. O computador ainda não funciona à vela!
Vita, fala pro seu colega de trabalho que eu pensei a mesma besteira. E só ontem cedo, luzes de volta, eu me toquei que o celular tem rádio. Dava pra acessar.
ResponderExcluirA gente vai aprendendo. No próximo, eu já sei: velas, fósforo e o cabinho que liga o celular ao fone de ouvido.
Mas Eduardo, já existe computador com bateria!!Você ainda está na geração das pilhas Rayovac, as amarelinhas?
ResponderExcluirO problema, Mário, é achar tudo isso no meio da escuridão. PÔ onde eu guardei o fone de ouvido? O velhinho radinho ainda é imbatível. Hoje li não sei onde uma matéria falando de como o velho rádio foi importante no apagão, mantendo as pessoas informadas (ou mal informadas).
ResponderExcluirÔ pré-histórico, pra uma procura rápida, vc usa a luz do celular, que nem os energúmenos usam no cinema...
ResponderExcluirEu achei que só funcionava no cinema....
ResponderExcluirO duro deve ter sido a surpresa porque ficar no escuro é bom.
ResponderExcluirÉ como ir para a Ilha do Cardoso, pra mim.
Adoro fogo mas, pra essas emergências, prefiro lanterna.
Luiz, agora que você está postando mais, estou sem tempo de vir.
bjs,
lina
Lina,
ResponderExcluirEu também estava postando menos por causa de tempo e de um apagão de ideias. Será que existe bloqueio para os blogueiros?
bjs