segunda-feira

adoçando notícia amarga


Há tarefas que são quase impossíveis no jornalismo e, normalmente, cabe aos ilustradores executá-las. Tarde da noite, fechamento de edições antecipadas, cai no colo do artista um catatau sobre crise cambial, depreciação do dólar, enfim, um tema cabeludo, repleto de jargões e fórmulas matemáticas. Pacientemente, lutando contra o relógio, de sua prancheta sai um trabalho como o que pode ser visto nesta página, de autoria de Carlinhos Müller, do Estadão, que fala por si, sem precisar de algum texto para acompanhamento. É prato principal. É filé de primeira. Pura proteína.

Trabalhamos juntos e varamos muitas madrugadas de sexta-feira adiantando as edições de domingo: eu andava de mesa em mesa procurando notícias para a primeira página (sim, as manchetes de domingo eram definidas na noite de sexta-feira e madrugada de sábado) e Carlinhos fazendo ilustrações e infográficos, que são aquelas tabelas com ilustração que viraram mania nos jornais atuais e roubam espaço das notícias.

Lembro vagamente que ele tocava num banda de rock e sempre conversava com outros jornalistas que também tocavam algum instrumento. Eram noites que demoravam a passar e muitos de nós estariamos de volta no sábado de manhã, depois de três horas de descanso.

Artista premiado, Carlinhos tirava leite de pedra dos assuntos que recebia para ilustrar. E continua fazendo a tarefa muito bem, como demonstra na edição desta segunda-feira (9/11) do caderno de Economia do Estado.

6 comentários:

  1. Grande Carlinhos! Engraçado que ele tem um jeito quieto, né? A cabeça fervilha de boas idéias. Figura do bem. Bela lembrança, Vita.

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  2. É verdade, ele era bem quietinho, ficava na dele. Que bom que um cara com o talento dele continue no jornal. Ele e o Baptistão, que é outra figura.

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  3. Das cabeças mais discretas, nascem as ideias mais luminosas! Parabéns pelo post! É preciso valorizar os ILUSTRADORES! Artistas que passam batido!!!

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  4. É verdade Eduardo,

    Os ilustradores são uma categoria que precisa ser valorizada. Normalmente eles passam batido e só se destacam quando começam a se dedicar a projetos mais autorais. Conheci vários artistas que ficavam esquecidos no jornal e, um dia, eram convidados para ilustrar e fazer capas de livros. Aí começavam a ser olhados com respeito nos locais em que trabalhavam. Cansei de ver.

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  5. Vejo-o um tanto nostálgico, caro Vita, por esse e por outros textos seus.
    Quem diria que um dia você sentira saudades de fechamento de jornal?
    Saudades é bom, melancolia não, eu tendo a ela por isso evito olhar para trás, se foi bom fico triste porque passou, achando que deveria ter aproveitado mais, se foi ruim fico me martirizando outras vez, sou muito esquisita, pode crer.
    Minha impressão é que você lida bem com o que que passou, com os chargistas e com os economistas.

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  6. Ester,

    Curiosa sua observação. Acbo que sou um pouco nostálgico, sim. Olho muito para o espelho retrovisor, mas também não deixo de prestar atenção no que está acontecendo na frente para não dar trombada. rsrsrs.

    Tenho valorizado muito o passado e tenho usado muito do que vivi no que tenho escrito. O curioso é que isso é justamente o contrário do trabalho do jornalista, sempre preocupado com os fatos do presente, que acabaram de acontecer.

    Acho que aos poucos estou me desligando do jornalismo para ser um historiador de mim mesmo.

    beijos

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